sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Tania Rösing faz o encerramento. Agora só em 2013.

Foto: Claudio Tavares

Na conferência de encerramento da 14ª Jornada Nacional de Literatura, a sua idelizadora e coordenadora, a professora Tania Rösing, proferiu a conferência "Leitura entre nós: 30 anos da Jornada". Em seu discurso repleto da emoção de celebrar a terceira década do encontro que fomenta a leitura e a literatura em todas as suas plataformas, ela refletiu: "O que eu mais desejo é que as Jornadas continuem em todos os seus desdobramentos. Valeu muito a pena. O trabalho tem sido intenso, mas os resultados são incontestáveis. Passo Fundo tem o melhor índice de leitura do País, com 6,5 livros lidos por ano por cada habitante. Faria tudo de novo, desde que possa contar com o apoio de amigos tão valiosos como Josué Guimarães." Depois de citar uma série de outros amigos, colegas e pessoas da equipe da Jornada, ela concluiu: "É possível transformar o mundo em que vivemos com a continuidade dessas ações. É viável a transformação de cada um, da família, do ambiente onde se trabalha, através da leitura. Do impresso ao digital, o compromisso da Jornada é com ela, a leitura literária. E como dizia Fernando Pessoa, tudo vale a pena se alma não é pequena”. E neste final, ela foi acompanhada pelo coro da plateia.

Cardápio não literário

Foto: Cláudio Tavares


As refeições servidas aos escritores participantes das Jornada no Buffet Clube Comercial foram muito elogiadas por todos, das saladas às sobremesas. No horário do almoço e logo após o encerramento do debate da noite todos vão para lá e é um momento de muita descontração, encontros, conversas sérias e muitas brincadeiras. Esta semana, por exemplo, teve até mesmo um improviso dos irmãos Caruso, antecipando o show de encerramento desta noite.

O livro eletrônico divide opiniões no último debate da 14ª Jornada

 Fotos: Tiago Lermen

Justamente no último debate da 14ª Jornada Nacional de Literatura, sob o sol que iluminava o verde e vermelho da lona principal do Circo da Cultura, a discussão se acendeu e pegou fogo – colocando o tema do livro digital e do impresso no centro do debate “Formação do leitor contemporâneo”. Estavam reunidos – e polarizados -- o escritor, ensaísta e intelectual argentino Alberto Manguel; a crítica, autora e professora argentina Beatriz Sarlo; o poeta, ensaísta, cronista e professor brasileiro Affonso Romano de Sant’Anna, e a editora de livros infantis escocesa Kate Wilson.

 O embate aconteceu depois da fala de Kate. Como editora, seu depoimento contrastou com o dos outros palestrantes, todos autores e intelectuais, enquanto ela deixou claro desde o começo que faz parte do mundo dos negócios. Ela apresentou pesquisas sobre a leitura nos Estados Unidos e Reino Unido que mostram que a venda de ebooks superou pela primeira vez a de livros impressos em fevereiro deste ano. “Agora nós editores temos o papel de nos conectarmos aos leitores e criarmos ótimas experiências de leitura em plataformas diferentes”, disse. No final, mostrou um vídeo de um aplicativo feito por editora, a Nosy Crow: uma animação com a história de Cinderela, com a qual o leitor pode interagir escolhendo se quer brincar, apenas ler, decidir a cor do vestido de Cinderela, entre outros.



Depois disso, Alberto Manguel pediu a palavra e falou, enfaticamente: “Eu não sabia que faria parte dessa discussão a deformação do leitor defendida com argumentos comerciais, de vender este ou aquele produto. O livro não é um produto comercial. É nocivo que uma crianças de 3 ou 4 anos seja introduzida à leitura dessa forma, aprendendo a ler na tela.”




Começou então um acalorado debate, com direito às caricaturas feitas ao vivo por Paulo Caruso que retratavam imagens como Alberto Manguel com luvas de boxe. Depois de recitar um poema de William Blake e dizer que também gostava de literatura, Kate disse: “Eu não me importo com o que as crianças leem, contanto que elas leiam e tenham prazer. Isso as torna melhores.” Mais tarde, ela acrescentaria que “hoje, quando as crianças passam tanto tempo em frente às telas, é preciso criar literatura para essa plataforma.”


Os outros participantes da mesa foram questionados sobre o assunto. Beatriz, depois de hesitar por um segundo, fez uma crítica ao conteúdo do livro apresentado. “A estética é kistch e o desenho gráfico está atrasado. Falta pensamento ao conteúdo”, disse. Já Affonso discordou de Manguel, falando que a literatura é sim um assunto de consumo. “Há um movimento de massa e de consumo.”

Achados e perdidos

Foto: Leonardo Andreolli


Celulares, mantas, credenciais, notebooks, pastas, crianças, professores. Todos os itens dessa lista podem ser (e foram) perdidos durante um evento que reúne milhares de pessoas como a Jornada Nacional de Literatura. Muitos esquecem objetos pessoais, se perdem do grupo ou acham alguma coisa que não sabem onde entregar. Para resolver isso, funciona desde 2005 a Rádio Poste das Jornadas Literárias. O espaço que serve para dar os avisos sobre a programação do complexo de lonas do Circo da Cultura também é a solução para os mais distraídos. Diariamente cerca de 200 pessoas são atendidas.

A coordenadora do espaço é a professora Bibiana de Paula Friederichs auxiliada pelo técnico responsável André Tassi e um grupo de 10 alunos da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo (UPF). Ela explica que além de todo esse serviço ao público a Rádio Poste também é produtora e fornecedora de material de áudio para oito rádios da região. São boletins gravados e ao vivo com a cobertura completa da movimentação. Quem não conhece um palestrante ou conferencista também costuma recorrer à equipe.

Muitas crianças se desesperam ao perceber que estão perdidas. A equipe da rádio precisa lidar com essa situação e distrair os pequenos enquanto o responsável por ele não chega. “Teve um fato curioso. Um grupo de pelo menos 10 crianças procurava uma professora perdida”, conta. Outro caso diferente foi com um celular entregue à equipe da rádio. “Ele ficou o dia inteiro lá. No final do dia a nossa estagiária resolveu ligar o aparelho e procurar algum contato para avisar”, acrescenta. Ela ligou para a mãe da menina que se comprometeu a buscar o aparelho no dia seguinte. Além de voltar para pegar o aparelho, a mãe ainda presenteou a estagiária.

Os autógrafos de hoje

Aproveite o último dia da 14ª Jornada para pegar autógrafos com os autores. Confira a programação de hoje:

15h
Cláudia Machado, Richard Rashke e Felipe Citolin Abal

16h
Fabiano Tadeu Grazzioli, Eloí E. Bocheco, Zenilde Durli

17h
Affonso Romano de Sant'Anna
Alberto Manguel
Beatriz Sarlo

17h30
Paulo Roberto Ferrari

E os autores da Jornadinha todos autografam a partir das 16h30. Eles são:

Leonardo Brasiliense
Giba Assis Brasil
Heloisa Seixas
Christopher Kastensmidt
Gabriel Bá
Fábio Moon
Tiago de Melo Andrade
Rodrigo Lacerda

Todas as sessões acontecem no Portal das Linguagens da Universidade de Passo Fundo, ao lado da Feira do Livro. São gratuitas e abertas ao público em geral.

Do ofício literário

 Foto: Max Cenci

"Todo ovo nasce para ser pinto, mas nem todo ovo vira pinto. Ovo só vira pinto se for galado - tanto que a gente diz 'ih, a coisa não galou'. Sabe quando a coisa não galou? Falta o outro elemento, que é o galo. Então, é assim: a cultura é que vai galar o sujeito. Todos vocês nasceram para ser qualquer coisa, mas precisa galar; precisa perceber este influxo energético e espiritual - vamos chamar assim - da cultura."

Charles Kiefer, na mesa "Oficinas de literatura: como são, para que existem e que futuro têm", do 3º Encontro Estadual de Escritores Gaúchos.

Laura Niembro fala sobre fomento à leitura em seminário da Jornada

Foto: Gui Benck

A diretora de conteúdos da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, Laura Niembro, palestrou na conferência “Experiências de formação de leitores: ampliando redes”, hoje de manhã, no 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, na 14ª Jornada Nacional de Literatura. Na foto, ela aparece segurando o troféu Vasco Prado, ao lado da professora Rita de Cássia Tussi, do programa Bebelendo e que mediou a conferência. 

A Feira de Guadalajara é o maior evento editorial e de venda de livros do mundo de língua espanhola. Mas também é um festival cultural, com muitos encontros com escritores, shows e investimento em formação de leitores, com programas que duram o ano todo e contemplam as crianças.

Em sua primeira passagem pela Jornada de Literatura, Laura se diz muito bem impressionada: “É alentador saber que existe esse encontro na América, com ênfase no trabalho prático. Geralmente, a atividade de fomento à leitura é mais obscura, e ninguém quer fazê-la. Aqui na Jornada, há toda uma equipe preocupada com isso, de uma forma que não está associada a um interesse comercial. E com uma organização perfeita, estou muito feliz por estar aqui.”

Formação de leitores a partir da fan culture

Foto: Gui Benck


Durante a manhã da sexta-feira (26), o 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural reuniu uma série de especialistas em um dos temas mais caros à Jornada de Literatura: a formação de leitores. Cada um de sua perspectiva deu um testemunho importante sobre o assunto – fornecendo possíveis exemplos a serem seguidos na conferência “Experiências de formação de leitores: ampliando redes”.

A especialista em fan culture (cultura de fãs) americana, Flourish Klink, que dá aulas no Massachusetts Institute of Technology (MIT), fez uma exposição entusiasmada sobre a aplicação dessas experiências na formação de leitores críticos. Ela explicou à audiência do que se trata a tal fan culture: os autores criam uma nova história, ou nova versão, com os personagens já existentes de um enredo conhecido. Como exemplo, ela usou a “Odisseia", de Homero: a história fundadora da tradição ocidental foi recontada inúmeras vezes, de diferentes perspectivas. Ela mostrou uma versão que narra a história a partir do ponto de vista de Penélope, que coloca em cheque a versão de Ulisses como um herói. “Há um realinhamento da moral da história”, diz Flourish. “É a versão mais feminista que poderia haver da Odisseia: fala como o amor pode nos tornar bobos e aceitar até os maiores idiotas. Recontar as histórias é mostrar pontos de vista diferentes, mas também ajuda a desenvolver um julgamento crítico sobre a obra original.”

 Foto: Gui Benck

No caso de Flourish, ela costuma criar novas histórias com os personagens de Harry Potter – ela criou a maior comunidade de fãs do bruxo na internet durante a sua adolescência. “Meu orientador diz que há dez maneiras diferentes de contar uma história”, fala. Pode ser abordando um momento diferente da vida dos personagens, que não é narrado no livro original; colocando-os em situações, cenários ou até épocas diferentes, entre muitas outras possibilidades. “Através dessa escrita podemos chegar a insights sobre o livro original.”

Foi então que ela propôs o uso da fan culture como ferramenta pedagógica para a formação de leitores críticos. “Escrever histórias com novas versões pode estimular o senso crítico, e de uma forma divertida, como um jogo”, disse. Depois de Flourish, palestraram também Laura Niembro, da Feira Internacional de livros de Guadalajara; e as professoras Natália Klidzio e Frieda Liliana Morales Barco.

Uma homenagem especial e merecida

Crédito: Tiago Lermen
O escritor Ignácio de Loyola Brandão, coordenador dos debates, fez uma homenagem para a idealizadora e coordenadora da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, Tania Rösing. Confira a íntegra de sua fala no Circo da Cultura:


"Creio que, tendo passado por todas as Jornadas a partir de 1985, eu possa falar em nome dos escritores que estão nesta, ou que estiveram em todas as anteriores. Em nome dos escritores que se foram, desde Josué Guimarães, Mario Quintana e até Moacyr Scliar. Nós escritores, a literatura brasileira, os professores, os estudantes e os leitores devemos muito a estas Jornadas, acontecimento único no Brasil. Talvez na América.

Nestes 30 anos conheci duas mulheres excepcionais. Estas duas, na verdade são uma. É que uma era grande, gorda, espaçosa. A outra é magra como uma modelo de passarela. Estas duas/uma são duas/uma das pessoas mais arrojadas, loucas, corajosas, idealistas, lutadoras, apaixonadas, sonhadoras e extraordinárias que conheço. Que conhecemos.

Repeti dezenas de vezes uma das famosas frases de Otto Lara Resende: “Quem não foi a Passo Fundo não é consagrado”. Não há fotografia, filme, vídeo, não há nada que possa reproduzir com exatidão o que acontece aqui a cada dois anos.

Duvido que Tania tivesse um mínimo de premonição do que aquele primeiro encontro de escritores pudesse ser no futuro. Entre aquele primeiro, regional, e este de hoje, internacional, nacional avassalador, o Brasil viveu 30 anos de uma história de transformações e desenvolvimento.

Não há quem não conheça Tania. Ninguém a quer como inimiga. Mas ela tem alguns, tem desafetos, tem quem a sabota, quem a menospreza. Digo eu: esses poucos hão de arder no fogo do inferno.

Crédito: Tiago Lermen
Tania conhece as salas de todos os ministérios, autarquias, repartições, empresas, financiadoras, prefeituras, secretarias, salas de espera de chefes de gabinete, seja lá o que for, sempre em busca do que? Fazer a próxima jornada.

Não conheço pessoa mais focada, determinada, obsessiva, centrada, furiosa, tenaz, resoluta, quando se trata de colocar a Jornada em pé.

Trator buldozer de 500 toneladas. Boeing 7.00.747. Sólida. Indomável

Emagreceu, sim. Mas a força é descomunal quando se trata da Jornada.

Ela tem sofrido a cada ano, sei disso, os mais próximos sabem. Rejeições, recusas, depressões, desânimos, vontade de largar tudo, desaparecer, entregar os pontos. Muitas vezes os mais próximos a ouviram exclamar: “Chega, é a última.”

No entanto, quantas vezes a ouvimos dizer quando se aproxima o momento de colocar essas lonas de pé, trazer essa gente, arrebanhar as crianças: “Vamos, vamos, vamos! Mexer o rabo, minha gente! Que desânimo! Tem muito a fazer. Querem que a Jornada não saia?

E ela aí vai em frente, de novo, trombando com deputados, secretários e ministros da Fazenda, quem quer que tenha a chave do cofre, a senha da conta.

Esses que não dão o dinheiro, esses que dizem não, esses que criticam, deveriam vir a Passo Fundo (eu pago a passagem) e olhar e se ajoelhar diante da Jornada e de Tania e dizer obrigado em nome do Brasil.

30 anos, 2011
60 anos, 2041
100 anos em 2081

Já liguei para o Oscar Niemeyer e pedi a fórmula, em 2041 eu terei 105 anos. A Tania, não sei, mas ela é nova, ainda que muito vivida. Com essa magreza, ela chegará ao centenário da Jornada de Passo Fundo, resoluta, impertinente, aflita, gozadora, audaz, enérgica, chata, louca, doce, áspera, afetuosa."

Os 30 anos de Jornadas Literárias em textos e fotos


Foto: Tiago Lermen
Depois dos anais da Jornada e dos três Anedotários , surge mais um importante registro escrito da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. Os dois volumes impressos comemorativos dos 30 anos de Jornadas Literárias foram lançados agora pela Editora da Universidade de Passo Fundo e são duas partes conceitualmente diferentes entre si, que complementam-se: um dos livros chama-se “Flagrantes”; o outro, “Estudos”.

“Flagrantes” rememorar a história do principal acontecimento literário do país em uma bela edição, de quase 300 páginas, ricamente lilustrada com muitas imagens e, depoimentos de personalidades importantes para história das Jornadas.

A obra “Estudos” abrange vários nichos temáticos historicamente caros à Jornada, como a literatura, a leitura, a formação de leitores, os diferentes modos de contar histórias e a promoção de iniciativas para movimentação cultural. Este volume, que beira as 200 páginas, traz textos teóricos de autores convidados e traduz em papel um pouco da riqueza da produção acadêmica potencializada por encontros e debates como as Jornadas.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Imprensa em movimento digital



Foto: Tiago Lermen

A internet abriu um novo campo de desafios para o jornalismo. Hoje, a informação provém de inúmeras fontes, abrindo o campo da transmissão pública de notícias a uma vasta população – e levando os grandes jornais a um reposicionamento e integração de mídias. Na noite de quinta-feira (25), a conferência “A comunicação do impresso ao digital” colocou o tema em pauta na 14ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. Falaram sobre isso os jornalistas Rinaldo Gama, de O Estado de S. Paulo; Pedro Lopes, do Zero Hora; Roberto Dias, da Folha de S. Paulo, e Eduardo Diniz, de O Globo.

O editor chefe de notícias online da RBS, que inclui o site do Zero Hora, Pedro Lopes apresentou pesquisas americanas que mostram o índice de crescimento do uso de tablets. Curiosamente, eles ainda não são tão usados para a leitura de jornais e revistas: são mais utilizados para acesso aos e-mails.

Eduardo Diniz, de O Globo, disse que a internet representa um novo ecossistema para os grandes jornais, com maior impacto do que tiveram o rádio e a televisão. “A informação transmitida pela internet lança como um supermercado de verdades, onde temos que escolher o que levar”, diz. “Isso mexeu com os grandes jornais, com tradição de produzir notícias. A tendência hoje é que as redações de impressos e sites se integrem.” Eduardo resgatou ainda o significado etimológico da palavra “imprimir”: transmitir, incutir ou gravar. “Hoje, a prensa é apenas um dos veículos, temos que pensar em imprimir, nesse sentido original.”

A essa questão, o editor de Novas Plataformas da Folha de S. Paulo, Roberto Dias, adicionou que apesar de as redações do impresso e site da Folha estarem integradas desde o ano passado, há uma questão econômica: “Não conseguimos ter a mesma receita com os sites do que com o impresso. Isso também acontece no resto do mundo.”

Já o editor do caderno Sabático de O Estado de S. Paulo, Rinaldo Gama, fez uma apresentação ligando o impresso, o digital e a literatura. “A literatura sempre foi multimeios, com multiplicidade de discursos. Hoje, o meio digital oferece um modo novo de realizar isso.” Em sua fala, Rinaldo destacou ainda a necessidade de repensar as formas de cobrir e escrever sobre a literatura eletrônica. E encerrou mostrando os recursos multimídia do caderno Sabático, como o programa mensal que entrevista um escritor na TV Estadão, transmitida no portal do jornal.


Eliane Brum, com muita emoção


Foto: Tiago Lermen

Eliane Brum foi brilhante e emocionou muita gente nesta tarde no debate realizado na Jornada de Passo Fundo. A plateia de cinco mil pessoas assistiu em silêncio, alternando muitos aplausos em alguns momentos, às falas dela, de Edney Silvestre e do americano Nick Montfort. Ela disse que até o aparecimento da internet, o que não era contado eram histórias não registradas e memórias esquecidas. “Com a internet, os personagens que não tinham voz passaram a ter voz, mas não basta ter voz, é preciso construir o conhecimento para ter o que dizer”. Confira aqui outros bons momentos de suas falas.   

Edney Silvestre, em busca de novos caminhos

Crédito: Tiago Lermen

No debate sobre "Diálogo, mídias e convergências", no Circo da Cultura, Edney Silvestre citou trecho do livro “Reparação”, de Ian McEwan, que descreve uma personagem em Londres tentando chegar a um lugar. Ela tem o nome da rua onde quer chegar, mas quando sai à sua procura, percebe que todos os nomes de ruas foram apagados das placas. Então, ela consegue um mapa antigo, mas o pedaço que contém a parte da cidade que precisa acessar está rasgada. “Eu me sinto da mesma forma atualmente. Sei onde quero chegar, mas não sei o caminho”, concluiu Edney. Logo depois do debate ele foi autografar seu livro "Se eu fechar os olhos" (Record) vencedor do Prêmio Jabuti.

Humor também dá o tom para a Jornada Nacional

Crédito: Tiago Lermen

Durante os debates no Circo da Cultura os telões mostram a todo instante os desenhos do cartunista Paulo Caruso revelando seu olhar sobre os participantes e as situações que eles abordam. O público se diverte bastante com a criatividade do humorista, participante semanal do Roda Viva, na TV Cultura.

Outro destaque na área de humor é a mostra Era Lula agora é Dilma, com trabalho dos cartunistas, que são irmãos gêmeos, Chico e Paulo Caruso, e do colega de profissão Aroeira. A exposição pode ser conferida no Centro de Eventos da Universidade de Passo Fundo (UPF) até amanhã. O conjunto de cartoons aborda a transição dos governos de Lula e Dilma, fazendo referência a fatos recentes da política brasileira e do cotidiano com humor e inteligência. Relações entre políticos e
partidos e até mesmo os "0s pôneis malditos" estão entre os assuntos abordados nos desenhos, tão ricos em detalhes que podem ser considerados obras de arte.

Circo sem lona na programação da Jornada

Crédito: Tiago Lermen

Circo sem lona na programação da Jornada Mistura das técnicas circenses com o teatrode bonecos. É dessa forma que grupo de espetáculos De pernas pro ar, de Canoas, trabalha há 23 anos. Participando pela primeira vez da Jornada, a turma, integrada por seis pessoas, apresenta números circenses isolados, andando por todo o espaço da Jornada. De acordo com Raquel Durigon, uma das coordenadoras, o grupo surgiu da vontade de usar uma linguagem diferente para se expressar. "Nós somos um circo sem lona e expressamos todos os nossos sentimentos através dos espetáculos que fazemos, sentimos necessidade disso, de levar a arte para as pessoas". Eles se apresentam novamente amanhã no Campus I da UPF, ao meio dia e às 17 horas.

O Teatro Mágico incendeia o Circo da Cultura


Foto: Cláudio Tavares


Pouco antes das 11 horas, a lona principal do Circo da Cultura atingiu lotação máxima. O motivo: o show do Teatro Mágico. Gente de todas as idades aguardava ansiosamente pelo grupo --  não apenas o público alvo da Jornadinha de hoje (alunos de 6° a 9° ano), mas também crianças mais novas e pessoas mais velhas.

O grupo capitaneado por Fernando Anitelli foi aplaudido vigorosamente, antes e depois da execução das canções. No repertório, músicas de autoria própria misturavam-se a melodias folclóricas tradicionais e também a eventuais referências pop. Essa mistura acertou o público em cheio, divertindo-se tanto com a familiaridade de algumas canções como com a imprevisibilidade e inovação de outras. 
A banda-trupe reúne não só os seis músicos encarregados de tocar violão e guitarra, violino, baixo, bateria, percussão, flauta tranversal e, ainda por cima, cantar: também há espaço para que outros artistas façam intervenções acrobáticas e teatrais durante o show. Assim, é comum assistir cenas como a de um palhaço saxofonista que interrompe e adere a uma música, uma mulher subindo por um tecido até quase o teto ou se contorcendo (no ritmo da música) em um aro metálico suspenso. Essas intervenções completam a aura pop circense do grupo.

Com o fim do espetáculo, fica a expectativa de ver o circo pegar fogo ainda mais uma vez: eles se apresentam novamente no último dia da Jornadinha, amanhã às 10h45.

Vale conferir a Ecocartoon

 Quem passar pela 14ª Jornada Nacional de Literatura também poderá conferir várias obras em cartoon, que se encontram expostas no Centro de Eventos da UPF e, entre elas a mostra Ecocartoon. Criado em 2008, o Ecocartoon traz os trabalhos de cartunistas do mundo inteiro. Eles traçam em seus desenhos um tema ambiental tentando despertar na população os sérios riscos que o planeta terra enfrenta, com o objetivo de conscientizar as pessoas.

E o que é melhor, de forma bem-humorada. Em sua 4ª edição, o Ecocartoon recebeu mais de 500 trabalhos de desenhistas de 51 países. Os trabalhos foram julgados por um corpo de jurados, sendo que os melhores, 108 no total, compõem a exposição que faz parte da programação paralela da Jornada. A exposição Ecocartoon ficará aberta ao público até o dia 26 de agosto, no Centro de Eventos, Campus I da UPF. A visitação é gratuita.

Por uma nova abordagem da literatura nas universidades

Durante esta manhã de quinta-feira, o crítico, especialista em Teoria da Literatura e professor Luiz Costa Lima questionou o modo como a literatura é ensinada nas faculdades de Letras – não apenas no Brasil, mas no mundo. Ele colocou a questão durante a sua conferência “A literatura e o leitor”, no 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural.

Professor visitante em uma série de universidades importantes em países como a Alemanha e Estados Unidos, Luiz Costa Lima foi carinhosamente chamado de “monstro sagrado da crítica brasileira” pelo mediador, o professor de Letras da Universidade de Passo Fundo Miguel Rettenmaier. Costa Lima é autor de mais de 20 livros e representa o alto grau de erudição que parece quase inatingível nos dias atuais com a fragmentação dos interesses, a sobrecarga de informações.

Em suas falas, ele defendeu a tese de que a literatura ainda se ensina com uma visão do final do século 18. Discorreu sobre como é recente a própria palavra e significado da palavra “literatura”, antes do século 18 chamada de “belas letras”. Da mesma forma, a noção de sujeito moderno, com o eu no centro das questões, também só passou a imperar depois dos ensaios de Michel de Montaigne – anteriormente o sujeito era determinado pelo seu meio social e heranças hereditárias.

“É com o romantismo alemão da segunda metade do século 18 que a literatura aparece como expressão do eu”, explicou. Depois dessa exposição, ele concluiu que os cursos de Letras ainda se focam em uma abordagem sociológica (que impregna a história da literatura), do que nos próprios textos literários. Também ressaltou a importância de que os cursos não se concentrem apenas em literatura nacional. “É importante estudar a literatura de um outro país, e também aprender um outro idioma.”


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Gêmeos do desenho em dose dupla na Jornight

Foto: Claudio Tavares

Gritos, assovios e muita empolgação que vinha de rostos jovens já anunciavam o clima da noite. A atmosfera da Lona Vermelha é diferente das outras tendas: a iluminação cênica incide em raios no palco, a fumaça do gelo seco torna o ambiente embaçado. E nesse cenário, aparecem os cartunistas e quadrinistas gêmeos mais ilustres do País: Paulo e Chico Caruso; Fábio Bá e Gabriel Moon, reunidos para o Encontro com os Gêmeos na segunda noite da Jornight, nesta quarta-feira, durante a 14ª Jornada Nacional de Literatura. Os primeiros recheiam as mais importantes publicações nacionais com suas caricaturas de políticos e figuras públicas, e ainda por cima são músicos. Os segundos são quadrinistas ganhadores do prêmio americano Eisner e do Prêmio Jabuti de melhor livro didático para a adaptação de “O Alienista”, de Machado de Assis.

Os irmãos Bá e Moon abriram o debate contando ao público como começaram a desenhar juntos desde a infância. E de que modo desenvolveram esse trabalho até decidirem fazer histórias para adultos, com temáticas do cotidiano que podem envolver frustrações amorosas, amizade, trabalho. “Muita gente identificava os quadrinhos apenas com histórias infantis, mesmo na faculdade de arte onde estudamos. Começamos a fazer nosso fanzine 10 Pãezinhos para provar o contrário”, contou Fábio. “Nós nos aguentamos todo dia: trabalhamos juntos, no mesmo estúdio. Mas sempre foi bom ter um irmão para falar se o desenho estava horrível ou bom. Escrever e desenhar são atos geralmente muito solitários.”

O trabalho conjunto cresceu, ganhou contornos autorais e reconhecimento mundial. “Hoje, o mercado de quadrinhos está em expansão, há interesse por parte do público e muitas editoras especializadas. Basta que os autores continuem fazendo boas histórias para manter esse interesse.” Mas Gabriel acrescentou que até hoje é difícil viver de fazer quadrinhos, apesar de o mercado de desenho e ilustrações ser muito mais amplo, possibilitando outros trabalhos que podem ser conciliados com o fazer de histórias longas, que costumam demorar meses ou anos para ficar prontas.

Se Gabriel e Fábio podem ser reconhecidos individualmente pelos cabelos e vozes diferentes, as semelhanças totais dos Caruso são desconcertantes. Eles começaram a sua apresentação dizendo juntos frases ritmadas sobre como costumam ser confundidos. “Não somos clones”, reforçaram, provocando risos na plateia. Bem humorados, também contaram sobre como começaram a desenhar juntos, com muito incentivo da família. Mas diferentemente dos gêmeos Fabio e Gabriel, sua carreira ficou mais concentrada em ilustrações, e coletâneas no caso de Paulo, ao invés de longas histórias em quadrinhos. Paulo disse que levou dez anos para conseguir publicar uma graphic novel que escreveu na juventude – depois disso, acabou voltando a trabalhar para a imprensa. “Eu sempre fui preguiçoso para desenhar longas histórias em quadrinhos”, brincou Chico. Paulo mostrou alguns de seus desenhos, que estão expostos no Centro de Eventos, junto aos de Aroeira.

Depois de uma rodada de perguntas do público, os irmãos Caruso mostraram toda a sua versatilidade artística com o Conjunto Nacional – a banda que também tem o cartunista Aroeira no saxofone. Com uma base jazzística, eles apresentaram números impagáveis, fazendo caricaturas musicais de políticos – assim como no papel. Pode ser um pente para representar o bigode do Sarney, uma imitação perfeita da voz de Lula ou um rap engraçadíssimo para falar sobre Kadafi.


O novo trio de mediadores de debates



Agora o time de mediadores e coordenadores de debates das Jornadas Literárias está completo ! Nesta edição da Jornada, o duo de Ignácio de Loyola Brandão e Alcione Araújo virou um trio: a jornalista e escritora Luciana Savaget juntou-se ao time. “Estou achando o máximo, é um desafio muito grande”, entusiasma-se. “Sou admiradora do trabalho do Ignácio e Loyola, e outros grandes escritores participam dos debates.” Ela se preparou: a primeira atitude foi ler os livros de todos os autores que participam das discussões. “Eu estava em outra vertente de literatura, e nessa preparação para a Jornada me voltei novamente para os autores nacionais. A Jornada é sempre uma renovação.”

Luciana já participou da 12ª Jornada como autora, e no ano passado, retornou à cidade para conversar sobre os seus livros com alunos e professores. “Foi fantástico”, lembra. “A Jornada é um dos mais importantes eventos literários do nosso país, que realmente valoriza e trata com respeito a literatura.”

Gonçalo Tavares usa histórias e personagens para ilustrar suas falas em debate da Jornada

Foto: Tiago Lermen

As alegorias e metáforas rechearam o debate “Identidade, literatura e cultura na globalização”, que teve início às 14 horas de hoje, na 14ª Jornada Nacional de Literatura.

O premiado escritor português Gonçalo M. Tavares deu a partida – aliás, tamanho o número de prêmios que ele já recebeu que a lista levou minutos para ser lida na apresentação. Usando a imagem de uma maça, Gonçalo falou sobre a sua visão sobre os conceitos de globalização e identidade. A fruta era usada na tradição cigana quando havia duas carroças em trajeto: a primeira deixava uma maça na esquina para indicar a direção que havia seguido. Por outro lado, a fruta também sinalizava o tempo que fazia que a primeira carroça passara por lá, através de seu estado de conservação. “A carroça é como cada geração, que deve deixar a maçã como sinal para as gerações futuras”, falou. Sobre a identidade literária, ele considera um dever de qualquer escritor saber identificar os sinais da geração anterior.

Na mesma linha, ele contou um trecho da história do livro “Cabeças Trocadas”, de Thomas Mann, para ilustrar o seu conceito de globalização. “Ela também é um acidente de cabeças trocadas, criando objetos com cabeça brasileira e corpo americano. A certa altura, não sabemos de quem são nossos filhos”, disse, referindo-se à história de Mann, em que a mulher do personagem já não consegue decidir se atribui a paternidade de seu filho a quem tem a cabeça ou o corpo do marido.

Finalmente, Gonçalo recorreu a uma última personagem criada por um escritor alemão: uma vesga que na quarta-feira olha para os dois domingos, o anterior e o próximo. “Para mim, a identidade mais estimulante seria um vesgo que na quarta-feira olha para os dois domingos e transporta uma maça para deixar de sinal à geração seguinte. É assim que eu gostaria de fazer.”

“O computador é um sugador”, diz Gonçalo Tavares

Foto: Guilherme Benck

O premiado escritor português Gonçalo Tavares, elogiado até por Saramago, falou sobre o processo de criação de suas obras durante a coletiva de imprensa. Ele deu detalhes sobre o livro “Uma viagem à Índia” e falou do respeito ao leitor.

Falando sobre o processo de criação, Tavares afirmou que tenta concentrar-se ao máximo. "Às vezes levo quatro horas para escrever 15 páginas e um mês para transformar essas 15 páginas em quatro. É preciso muito tempo para fazer as coisas curtas". Para ele, o respeito ao leitor deve nortear o trabalho. "Se posso dizer a mensagem em sete palavras, por que dizer em 10? Quando explicamos muito, nada fica para o leitor, que também é um emissor e precisa de espaço."

Sobre a relação que tem com a internet, o computador na hora de escrever, foi enfático: "O computador é um sugador, ele nos apira. A internet é um exemplo de não concentração. Isso não é para mim potencialmente criativo".

O texto final de uma obra só acontece depois de 3 a 4 anos após tê-la escrito. "Escrevo, esqueço do livro e após alguns anos olho para ele criticamente, com o olhar do leitor." Lembrou que "Uma viagem à Índia" foi escrito em 2003 e publicado em 2010.

A vez e a voz dos jovens. Agora eles têm a Jornight


Palmas, os assobios, risadas e muito entusiasmo foram freqüentes entre os 1500 jovens, entre 15 e 25 anos, que participaram da grande novidade desta edição: a Jornight. Elisa Lucinda fez a abertura com o espetáculo pocket (versão menor da peça) “Parem de falar mal da rotina”, revendo um conceito muito gasto e difundido do senso comum de que a rotina é vilã. Ela mostrou que precisamos lembrar que a rotina é fruto das nossas escolhas, uma decisão nossa, particular. “Cada um é roteirista da própria história”. Nesta quarta, a partir das 19h30, quem fala na Jornada são os gêmeos quadrinistas Gabriel Ba e Fábio Moon e os desenhistas de humor, músicos e atores Paulo e Chico Caruso.

Muitas possibilidades criativas e interativas para a literatura eletrônica



Na tela de computador, a linguagem desbrava outras fronteiras estéticas, podendo estar integrada a imagens, vídeos e passível de interação, abrindo um leque de inúmeras possibilidades criativas -- e interativas. Na conferência “Literatura e imaginário no século XXI”, parte da programação do 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, da 14ª Jornada Nacional de Literatura, o professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), crítico e autor de ficção interativa Nick Montfort discorreu sobre o assunto e apresentou uma série de trabalhos eletrônicos.

O professor e pesquisador da área de Letras da Universidade de Passo Fundo Miguel Rettenmaier apresentou Montfort, destacando como os livros do autor tiveram impacto quando chegaram à comunidade acadêmica da UPF. Então, Nick conversou com o público, colocando ênfase na mostra dos trabalhos eletrônicos. No começo, ele destacou a obra com códigos que mudam da artista digital brasileira Giselle Beiguelman, que participou do debate principal de ontem da 14ª Jornada.

Falou também sobre o seu trabalho na Electronic Literature Organization. “Nosso objetivo é compartilhar a literatura eletrônica com o público e trabalhar formas que vão além do que ocorre nos ebooks”, explicou. “A literatura eletrônica não quer criar um mercado, mas encontrar formas de compartilhar os trabalhos.” A Electronic Literature Organization compilou, inclusive, a primeira antologia de criações desse segmento, disponível em collection.eliterature.org. Geralmente, os autores desse tipo de literatura concordam em disponibilizar o seu trabalho gratuitamente através das redes para indivíduos e instituições sem fins lucrativos.

Na literatura eletrônica, elementos como a música, fotos ou vídeos podem ser combinados às palavras de modo a integrarem-se, criando novos formatos eletrônicos. Nick desenvolveu um programa gerador de poemas e textos, com o qual o leitor interage – todo o seu trabalho está disponível em nickm.com. Dependendo do o leitor escrever ou falar, a história terá novas formas. Em um deles, por exemplo, é possível dar comando às palavras: quando se escreve para ligar as luzes, um tipo de texto vai aparecer, ou para as letras acordarem, um outro. No fim, o ato de ler esses textos é uma experiência, na qual o leitor interfere. “Nos geradores de textos, trabalho com texturas de linguagem, não há textos excelentes, o que vale é a experiência de ler para ter um encontro diferente com a linguagem. Mas se a pessoa espera uma constelação de palavras, a perfeição da linguagem, pode ficar decepcionada.”

Em outro exemplo, ele mostrou um poema que criou em um passeio por um parque de Twain: ele tentou traduzir através da linguagem visual o que via no parque: as linhas que acabam com um travessão, por exemplo, correspondem aos túneis que ele via no parque. E chegou a ler com o intérprete da palestra – em inglês e português -- um outro trabalho inspirado no movimento Fluxus de Yoko Ono, com a palavra sim como centro para textos que se criam.

Entre as inspirações para o trabalho de literatura eletrônica e interativa, ele cita as obras do Concretismo dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos. A literatura eletrônica, porém, é mais uma possibilidade – e não concorre de forma alguma com o livro impresso. “Ela representa um espaço para a literatura na rede. Nos comunicamos de maneira diferente, a rede permite outras possibilidades, mas leio muitos livros impressos e sou fascinado por sua forma material”, disse. “Até o computador é um tipo de livro: ele abre e fecha da mesma maneira.”

A Jornada de Josué


O ano em que Josué Guimarães completaria 90 anos de dedicação à literatura é também o ano em que uma de suas expressões de incentivo à leitura, a própria Jornada Nacional de Literatura, comemora três décadas. Para marcar essas datas e prestar homenagem a um dos idealizadores da Jornada junto com a professora Tania Rösing, uma série de atividades está sendo realizada no Campus I da Universidade de Passo Fundo (UPF). Entre elas está uma representação do próprio escritor em tamanho real, que permite aos fãs posarem para fotos junto dele.

Os familiares que vieram a Passo Fundo para a homenagem ao escritor também resolveram registrar o momento ao lado da foto de Josué. Os filhos Rodrigo Guimarães e Adriana Machado Guimarães, além da neta de Josué, foram flagrados pelo professor Nino Machado. A foto é um registro e mesmo um marco que permitiu a aproximação das três gerações, mesmo que apenas na imaginação de todos.

Para saber mais sobre o trabalho de Josué Guimarães, vale consultar o site recém-lançado: http://www.upf.br/aljog. A página reúne informações sobre a sua obra e a sua vida, bem como assistir o trailer e saber mais sobre o documentário “A Jornada de Josué”. Há ainda depoimentos de outros escritores sobre Josué e até a mostra de seu processo criativo com fac-símiles de manuscritos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pedro Herz, a Livraria Cultura e os novos tempos

Foto: Pedro Coppini

“Nunca falei para uma platéia tão grande”, disse o presidente do Conselho da Livraria Cultura, Pedro Herz, durante a palestra “Livro: perspectivas de negócios’, para mais de 400 alunos da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da UPF. Ele foi recebido pelo diretor da unidade acadêmica, professor Eloi Dalla Vechia.

Bem informal, Pedro Herz pediu para sentar e contou a história da sua empresa. Para surpresa de muitos, começou dizendo que tem mais de dois mil funcionários e nenhuma secretária,mesmo nas filiais. “Se vocês ligarem para o meu ramal, se estiver na mesa eu atendo e se não estiver fica o recado na secretária eletrônica”.

Seus pais eram alemães e vieram para o Brasil fugindo do nazismo, em 1938. Primeiro ficaram por uns tempos na Argentina e depois escolheram São Paulo para morar, cidade onde Pedro e o irmão nasceram.

Quando percebeu que vários amigos alemães que também estavam no Brasil sentiam falta de livros no seu idioma, a mãe foi em busca de um financiamento com um importador conhecido, comprou dez livros e começou a emprestá-los. Da garra e visão de Eva nasceu ali a Livraria Cultura, hoje um império com 11 filiais, a 12ª que será inaugurada semana que vem no Rio de Janeiro e o projeto de nos próximos anos partir para uma gestão profissional, abrindo o capital da empresa.

Desde o ano 2000 a Livraria Cultura trabalha também com CDs e DVDs e foi pioneira no uso da Internet para as vendas (18% do faturamento). Essa história de sucesso envolve dois fatores fundamentais: “Investimos muito em tecnologia e Recursos Humanos. Nossos funcionários recebem uma ótima remuneração, acima do mercado, mas exigimos muito. Eu não vendo livros, eu vendo conteúdo”.

Pedro diz que os novos tempos trouxeram um mercado complicado, onde tudo vira obsoleto com muita facilidade. “Não basta ter a formação, é preciso estar informado o tempo todo para garantir espaço no mercado de trabalho.”

“O hábito de leitura nasce em casa”, ele garante. Não acredita que o livro digital vai substituir o livro impresso: “É positivo, estimula a leitura em outro espaço físico”. E quando perguntaram quais os livros que recomenda, foi direto: “Não recomendo livro nenhum e não releio nada, há muita coisa nova para se conhecer”

Uma nova linguagem para a internet



Foto: Cláudio Tavares

Já vivemos a era do cérebro global, e ele é representado pela internet e todos que a utilizam. O filósofo da cultura da internet, o tunisiano Pierre Lévy, abordou o assunto na conferência “Horizontes do conhecimento na era digital”, que aconteceu às 20 horas de hoje (23) na 14ª Jornada Nacional de Literatura. Autor do conceito de inteligência coletiva, ele é um defensor ferrenho da internet como uma forma de democratização da cultura.

Durante a conferência, Pierre apresentou mapas e esquemas didáticos que mostram a sua concepção de uma nova linguagem para nortear e avaliar o sentido dos dados trocados pela rede. “Trata-se de uma utopia linguística, mas que pode se tornar real e mudar a maneira como lemos e escrevemos”, disse em um inglês temperado pelo sotaque francês. Essa língua seria capaz de categorizar dados como se quiser, incorporando significados. “Esses significados não são absolutos, por isso costumo chamar isso de jogos de interpretação coletiva.”

Relacionando o universo material e espiritual (da cultura simbólica), ele reforçou que estamos explorando novas relações mentais a partir do uso extensivo dos computadores e da internet. Isso estaria transformando a nossa habilidade cognitiva. “O aumento da capacidade de gravar e armazenar dados continua crescendo, e podemos transmitir informações de qualquer lugar para outro”, disse. “Estamos apenas no começo desse processo e precisamos refletir sobre isso. Ainda não sabemos como usar todo esse potencial.”

Para ele, a exploração das mídias digitais deveria estar a serviço do processo de recepção e transmissão de cultura. “Estamos vivendo um grande momento de transformação, que considero tão importante quanto a transição da cultura oral para a escrita”, destacou.

O homem da ficção científica

Foto: Tiago Lermen


A coletiva do americano Nick Montfort foi além das palavras. O poeta, cientista da computação, professor associado do Massachusetts Institutde of Technology (o famoso MIT) falou sobre obras de ficção interativas em novos formatos para a internet e mídias digitais e mostrou no computador como elas funcionam. Ele participará nesta quarta da conferência "Literatura e imaginário no século 21", na programação do 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, com o tema "Culturas, Leituras e Interações: das comunidades orais às redes sociais", das 8h30 às 9h30, no auditório do Iceg (prédio B5), Campus I.


Há anos ele experimenta novos formatos interativos, levando a literatura a outros suportes e modalidades. Ele define ficção interativa como uma forma específica de literatura eletrônica desenvolvida no computador, com interface com os games. Para ele, no Brasil a referência mais forte de ficção interativa é a poesia concreta. “Existem espaços para trabalhar com idéias literárias em um conceito de videogame. Se eu entender como ação, combate, espetáculo, o videogame é a alternativa para entender melhor a perspectiva dos personagens e o uso das palavras.” Nick elogiou o trabalho da Jornada por abrir espaço para discussões de novos formatos e ofereceu o endereço do seu site para quem estiver interessado em saber mais sobre o assunto: nickm.com.

A menina do cabelo verde


Azul ou verde? Bom, as opiniões divergem, mas Flourish Klink chama atenção por onde passa. E parece não ter a menor ideia disso. Na 14ª Jornada Nacional de Literatura, ela participa do debate “Experiências de formação de leitores: ampliando redes”, às 8h30, no dia 26, dentro da programação do 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural. Com apenas 24 anos, ela dá aulas no conceituado Massachusetts Institute of Technology, o americano MIT, sobre A cultura dos fãs clubes, e as comunidades virtuais que se formam a partir disso. E ela começou muito cedo. Aos 13 anos, ela ajudou a fundar o FictionAlley.org, a maior comunidade virtual de fãs do bruxo Harry Potter. Ela continuou envolvida com o tema e hoje faz parte do conselho da HP Education Fanon, que promove conferências sobre Harry Potter. Flourish também lidera a divisão de Cultura do Fã dos Alquimistas e auxilia no mapeamento e implementação das ações dos projetos multimídia, que envolvem conversar com os fãs e também formar novos admiradores para as histórias de clientes.

O desafio da arte em tempos digitais

Foto: Claudio Tavares

As mutações em torno da forma de ler e de se produzir a literatura foram tônicas no debate “Literatura e arte na era dos bits”, que aconteceu às 14 horas desta terça (23), no Palco de Debates, na 14ª Jornada Nacional de Literatura. A artista digital e professora Giselle Beiguelman, a filósofa Márcia Tiburi, o quadrinista Mauricio de Sousa, o crítico inglês de literatura infantil Peter Hunt e a escritora e estudante Luisa Geisler, vencedora da categoria de contos do Prêmio Sesc de Literatura de 2010 participaram do debate.

Entre os vários depoimentos relevantes para o tema, a artista digital e professora Giselle Beiguelman concentrou a sua fala nas novas possibilidades de produção de arte em dispositivos móveis. “Ao nos abrirmos para discutir a arte em redes, precisamos repensar o contexto de leitura, em que as plataformas se multiplicam, para um leitor em trânsito e que faz outras atividades ao mesmo tempo.” Ela mostrou vídeos de códigos que carregariam informações pessoais em celulares, e a de um aparelho cuja tela muda de tamanho dependendo da necessidade.

Giselle, que reflete há alguns anos sobre a arte no contexto de redes, avalia que é provável que o livro eletrônico permita uma leitura socializada. “Acredito que deva ser uma literatura pensada para um leitor que divide a sua atenção entre objetos simultâneos, e que está em trânsito e faz a leitura em dispositivos móveis”, disse. Assim como Peter Hunt, ela destacou que o leitor será um coautor. Nada disso, porém, decretaria a morte do livro impresso.

O cartunista e a cidade

Foto: Max Cenci

O artista gráfico e jornalista Edgar Vasques integrou o primeiro dia do Encontro de Escritores Gaúchos na Jornada, de certo modo representando a criação literária aliada à plástica. Ele é autor de histórias em quadrinhos, charges, cartuns e afirma que a literatura hoje está muito associada à criação da imagem. “Existe um acervo crescente de literatura ilustrada, fenômeno que começa nos anos 50. Com todos os aperfeiçoamentos dos processos gráficos e a chegada da eletrônica, esse processo se ampliou muito, então, a Jornada está caracteristicamente acompanhando o tempo”, relatou.
Além disso, Vasques explica com precisão o potencial dos quadrinhos como formador de leitores: "o aporte da imagem é muito importante, né? Facilita a entrada no mundo da ficção se houver o interesse e o apoio da imagem junto do texto. Este sempre foi o grande diferencial do quadrinho".
No Encontro, ele demonstrou imagens do seu trabalho relacionadas ao tema da cidade. "A cidade funciona como cenário e às vezes personagem da narrativa. Tenho feito muitos quadrinhos históricos e, nisso, há uma pesquisa de roupa, dos meios de transporte, do equipamento urbano das cidades."

O fenômeno dos gibis


Foto: Cláudio Tavares

Entre o diálogo com o público e o manuseio de um pincel atômico sobre folhas num cavalete, Mauricio de Sousa marcou sua presença na Jornada de Passo Fundo. O paulista de Santa Isabel falou um pouco sobre o desenho, seu processo de desenho e até demonstrou ao vivo que o criador não se esqueceu como modelar suas criaturas - ou, nas palavras dele, seus "filhos": os personagens da Turma da Mônica. Ele ainda chamou duas crianças ao palco, para que mostrassem suas habilidades. Enquanto apreciava as pequenas mãos criando formas com o pincel, observou: "adoro desenho de criança. Diz muito da personalidade, do espírito..."

Entre outras coisas, o famoso cartunista respondeu às perguntas da plateia, revelando alguns de seus projetos, como a inserção de personagens de várias regiões do Brasil e de um garoto politicamente correto ("Marcelinho") no Bairro do Limoeiro. O autor repassou a pergunta de uma pequena leitora - se deveria criar a versão adulta Turma da Mônica - à plateia... e teve resposta positivíssima! Então, provocou: "Em homenagem às Jornadas Literárias, eu vou voltar para São Paulo e conversar com meus roteiristas para ver como a gente cria este 3° patamar da Turma".

Por fim, Mauricio ainda recomendou ao público: "a melhor coisa que você tem que fazer é o que a professora Tania e o pessoal aqui falou: ler cada vez mais".

O Pai da Mônica já passou pela Jornadinha, mas tem outra participação na Jornada: após o almoço, às 14 horas, ele estará de volta ao Circo da Cultura, ao lado de Giselle Beiguelman, Marcia Tiburi, Luisa Geisler e do inglês Peter Hunt, no debate "Literatura e arte na era dos bits".

O vencedor e seus contos

O escritor João Goulart de Souza Gomes (2° à direita) recebe o Troféu Vasco Prado / Foto: Cláudio Tavares

João Goulart de Souza Gomes foi o grande vencedor do Concurso de Contos Josué Guimarães. O escritor baiano foi premiado com R$ 5 mil e uma viagem de dez dias a Santiago de Compostela, na Espanha, onde poderá estudar durante este período na Universidade de Compostela. Ele fala sobre o trabalho: "São três contos. O primeiro é “Moira e a Lenda”, um conto mítico sobre o encontro dessa deusa com um mecânico e que muda o destino dele. O segundo é “Socorro”, a história de uma tragédia de amor, envolvendo incesto. Já o terceiro é “Invasão bárbara em Paris”, um conto baseado em um fato verídico, uma vez que os vikings invadiram mesmo a cidade nos séculos 8 e 9.

Seminário Internacional: estudos e pesquisas acadêmicas reforçam o hábito da leitura



Discutir os rumos da leitura e suas transformações na era digital, focando especialmente as comunidades orais, é o objetivo do 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio. O encontro começou nesta manhã, com sessão solene com a presença do vice-reitor da Universidade de Passo Fundo (UPF) Leonardo Gil Barcellos; do presidente da Fundação Biblioteca Nacional Galeno Amorim; da coordenadora da Red de Universidades Lectoras e coordenadora do Seminário Maria Del Mar Campos Fernandez Figares, e do vice-reitor da Universidade de Huelva, José de Lara Ródenas.



Já tradicional no calendário da Jornada, esse simpósio é itinerante. Hoje envolve uma série de universidades europeias (portuguesas, espanholas e de outros países) e acontece em anos ímpares nas Jornadas, e em anos pares na Europa. Aliás, todos os participantes da solenidade de abertura reforçaram a importância deste seminário para fomentar pesquisas universitárias no setor, e assim, estimular o crescimento da própria leitura no Brasil e a criação de novas políticas públicas de incentivo.


O presidente da Fundação Biblioteca Nacional Galeno Amorim destacou o poder dos estudos e pesquisas acadêmicas que elucidam questões relativas à leitura e mostram lacunas para suscitar ações de incentivo. Já o vice-reitor da UPF, Leonardo Gil Barcellos, salientou como as Jornadas estimularam (e continuam estimulando) o apetite de novos leitores: na cidade, até as crianças pequenas de 3 anos gostam de receber livros de presentes, contrastando com o que costuma acontecer no resto do País.

Na sequência da abertura, aconteceu a primeira mesa do Seminário, com o tema “A tradição oral e a literatura na era digital”. Uma das palestrantes foi a professora espanhola Maria Del Mar Campos Fernandes Figares, que também é coordenadora do 10º Seminário e representa ainda a Red de Universidades Lectoras – uma associação de 33 universidades de todo mundo comprometidas com o compromisso de estimular e difundir a leitura, da qual a UPF faz parte. “Com a internet, é possível encontrar contos em várias versões, assim como acontece com os contadores. Com a rede virtual, dá para se retomar e compartilhar contos”, diz ela sobre as possibilidades de difusão da tradicional cultura oral de literatura na era digital.


Participaram da mesa também a professora Juracy Saraiva, da Universidade de Almería (Espanha), o professor Elias Feijó, da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), a professora Maria del Carmen Quilles Cabrera, também da Universidade de Almería. “Na era digital, é preciso criar comissões multidisciplinares de professores para estimular a leitura nas universidades”, reforçou Maria Del Carmen durante a sua fala, mostrando aos participantes de que forma isso já é colocado na prática.

João Almino: "Todos vivemos um pouco através das redes"

João Almino, com o livro “Cidade Livre” (Record), foi o vencedor do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura 2011. Esta manhã ele participou de coletiva de imprensa e falou um pouco de sua vida, citando que começou a ler muito cedo os regionalistas nordestinos na biblioteca do pai: “Com 14 anos tive o privilégio de ler Graciliano Ramos”. Ele confiava muito no seu livro para vencer o prêmio e disse que estava feliz por estar bem acompanhado pelos vencedores anteriores e também pela qualidade dos escritores finalistas que disputaram com ele. Sobre a obra premiada, explicou a ligação com a linguagem da Internet: “Achei que o universo dos blogs estava crescendo muito na nossa vida cotidiana, todos vivemos um pouco através dessas redes. Mas o blog não é o centro da narrativa, eu tomei partido por uma literatura mais bem acabada, apenas incorporei a linguagem do blog, mas mesmo esse relato passa pelo crivo do personagem que é o revisor. Na época eu comecei um blog para sentir como funcionava um blog”. 

Livro digital ou livro impresso? João Almino acha que os dois se alimentam: “Há certos livros que eu quero em papel, outros eu não quero, só preciso consultar. Principalmente quando eu viajo facilita muito, em vez de malas pesadas eu escolho dentro do kindle o que eu quero ler”.

Chuva, frio, mas as crianças da Jornadinha curtiram tudo

Nem manhã chuvosa com temperatura de 9°C foi empecilho para a Jornadinha: arquibancadas lotadas prestigiaram o espetáculo da Intrépida Trupe. O espírito circense envolvia as crianças presentes, que assistiam boquiabertas às acrobacias no palco e nos telões. A trilha sonora agitada e as mudanças de luzes criavam a atmosfera para o desencadeamento da ação: encenações, palhaçadas, perseguições e artistas girando e se contorcendo junto a elásticos. Uma figura sentada num balanço ascendente e acrobatas subindo por fitas, avançando por sobre a plateia, foram o ápice da performance, fazendo com que a maior parte do público virasse o pescoço e subisse nas cadeiras, ansioso por um desfecho. Depois, foi a vez de Humberto Gessinger, vestido todo em azul, pisar novamente o picadeiro do Circo para mais uma interpretação de "Sagração da Palavra", a canção da Jornada, acompanhado em coro pela plateia.

Confira as atrações da Jornada nesta terça

A Jornada já começa a todo vapor nesta terça-feira! O Gato Gali-Leu, Natália e Mil-Faces abrem a 6ª Jornadinha, às 9 horas. Em seguida, às 10, Maurício de Sousa fala com seus pequenos leitores, logo antes do show “O elefante e a joaninha”, de Hélio Ziskind e Banda.

Além da Jornadinha, a manhã reserva boas atrações. Entre elas estão o 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural – que conta com personalidades como o presidente da Fundação Biblioteca Nacional e o Vice reitor da Universidade de Huelva, na Espanha -, no Auditório da Odontologia, e o 4° Encontro da Academia Brasileira de Letras, com Domício Proença Filho e Geraldo Holanda Cavalcanti.

Vale conferir o 3° Encontro Estadual de Escritores Gaúchos que traz ao Auditório do Centro de Educação e Tecnologia (prédio B3) uma discussão sobre o tratamento literário dos aspectos urbanos. Para tanto, foi escalado um grupo devidamente heterogêneo: nada menos que Flávio Ferrarini, Paulo Neves, Vitor Ramil, Edgar Vasques e o novato Ismael Caneppele .

À tarde, às 14 horas, o foco no picadeiro principal é o aguardado debate “Literatura e arte na era dos bits”, que reúne Giselle Beiguelman, Marcia Tiburi, Maurício de Sousa, Peter Hunt e Luisa Geisler (esta, vencedora do Prêmio SESC de Literatura de 2010). Ainda no mesmo local, Cid Campos apresenta sua música (19h) e o filósofo tunisiano da cibercultura, Pierre Lévy, encabeça uma conferência (20h).

Começa hoje a grande novidade da programação. É a Jornight, na Lona Vermelha, a partir das 19h30, com a participação de Elisa Lucinda com “Parem de falar mal da rotina”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Jornada é uma ousadia, diz a ministra Ana de Hollanda


“A Jornada incentiva o diálogo entre o leitor e o escritor. É uma experiência que desperta a paixão por ler. Escrever é usar a liberdade de sonhar, voar, criar. Abrir um livro traz a possibilidade de sair dos limites impostos e ir além. Acho uma grande ousadia dos responsáveis pela Universidade de Passo Fundo organizar essa Jornada fora dos grandes centros e onde a grande mídia está presente. A Jornada  é um trabalho de persistência que foi crescendo, ganhou reconhecimento. Hoje os olhares de outros estados e de outros  países estão voltados para Passo Fundo.”

Ministra da Cultura Ana de Hollanda, em Passo Fundo

Almanaques à mostra

Foto: Tiago Lermen
 
A História dos almanaques pode ser desvendada na exposição "Tempo de Almanaque", que acaba de ser aberta no espaço do SESC (Serviço Social do Comércio), instalado no pavilhão Portal das Linguagens, dentro da programação da 14ª Jornada Nacional de Literatura. Em foco estão os almanaques farmacêuticos, livretos originalmente desenvolvidos como propagandas de indústrias de remédios. Surgidos na França, chegaram ao Brasil no começo do século XX, depois de passar por Portugal e Estados Unidos. O projeto é uma iniciativa do SESC e partiu do interesse num artigo publicado no site pessoal da dona do acervo de almanaques, a escritora e estudiosa Yasmin Nadaf, de Cuiabá. Ela revela que esta coleção, que abrange um período de mais de 100 anos, é uma de várias que reúne material relacionado à formação de leitores na História do país.

A distribuição gratuita dos livretos, tanto no campo quanto na cidade, amplificou a influência do formato e seu significado cultural. Com o tempo, ele se transformou de mera propaganda de laboratórios farmacêuticos a uma publicação com folhas de calendário, guia de curiosidades e conteúdo infantil, chegando a servir como cartilha de alfabetização. Yasmin revela: "o tempo áureo do almanaque foi da década de 30 a 60, quando todos os laboratórios multiplicaram as suas tiragens. Então, o almanaque virou o objeto impresso de maior tiragem no Brasil". Um exemplo disso é o mítico Jeca Tatuzinho, de Monteiro Lobato. Não é um fato conhecido, mas o personagem nasceu como protagonista de um almanaque do Intistuto Medicamenta Fontoura, fazendo propaganda de um remédio contra o amarelão. O êxito pode ser constatado pelo impacto cultural da criação, também respaldado por alguns números: em 1973, a publicação chegava à sua 35ª edição, somando 84 milhões de exemplares.

A exposição fica aberta até o dia 26 de agosto e traz, além de fac-símiles de itens da coleção, o livro-catálogo "Tempo de Almanaque", com estrutura similar à da exposição: é dividido por aspectos culturais explorados no formato através do tempo, como publicidade, utilitários, informações científicas e imagens de mulheres.

Preservação ambiental também é preocupação na Jornada

Minimizar o impacto ambiental é prioridade na organização da Jornada. A Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Prefeitura de Passo Fundo, realizadoras da Jornada, programaram algumas medidas para neutralizar possíveis prejuízos ao meio ambiente.

Conforme a professora Elisabeth Foschieira, uma das envolvidas no programa de gerenciamento de resíduos da UPF, foram programadas iniciativas em três frentes: plantio de árvores, destinação adequada dos resíduos e recuperação de uma área degradada.

A partir desta terça-feira (23), mudas de árvores típicas da região serão entregues aos participantes da Jornada e da Jornadinha que tiverem interesse em cultivá-las. O viveiro da Universidade disponibilizará 500 mudas, e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Passo Fundo (SMAM) entregará outras 200 mudas, com a possibilidade de ampliar a quantidade caso haja demanda. Elisabeth explica que as mudas serão entregues apenas a quem tiver interesse em plantá-las. “Nossa intenção é que essas árvores realmente sejam cultivadas. Pedimos a quem for retirar às mudas o preenchimento de um cadastro, para que tenhamos uma noção de onde essas árvores serão plantadas”.

De acordo com a vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários da UPF, Lorena Geib, essas ações reforçam a missão da instituição. “Essa iniciativa de mitigação dos impactos ambientais, expressa o compromisso da UPF na busca da promoção de eventos sustentáveis”, destacou.

O trabalho de separação, coleta e correta destinação do lixo será intensificado durante a Jornada. Os resíduos serão recolhidos por membros das cooperativas de reciclagem AAMA e Cotraempo, que fazem o recolhimento habitual na UPF. A SMAM disponibilizou oito containers para depósito de resíduos e tele entulhos. A destinação ficará a cargo das mesmas cooperativas, da qual fazem parte seletores e catadores do município, que se beneficiam com a venda de materiais recicláveis.

A área degradada a ser recuperada ainda não foi definida, e o trabalho será feito com a participação de acadêmicos. Após o evento, mudas de árvores nativas serão entregues a um município da região. “Ainda não escolhemos a localidade, mas priorizaremos cidades com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo”, explicou a professora.

Livraria do Maneco, o espaço mágico dos livros


Se você quer conhecer as novidades em livros vale passar na Livraria do Maneco, localizada no Portal das Linguagens, pavilhão próximo ao Circo da Cultura.

Para que o público encontre com facilidade o que procura, os livros dos autores participantes da Jornada estão dispostos em um único local. Além disso, está disponível grande diversidade de títulos de literatura em língua espanhola, originados da Espanha e Argentina.

A Livraria do Maneco funciona até esta sexta-feira, 26 de agosto, das 8h às 22h, sem fechar ao meio-dia.

Livros de diversas editoras podem ser encontrados na Livraria do Maneco, como Cia das Letras, Rocco, Grupo Editorial Record, Leya, Objetiva, UPF Editora, Maneco Editora, L&PM, Artes e Ofício, Ediouro, Novo Século, Larouse, Escala Educacional, Saraiva, Atica, Vozes, Bertrand Brasil, Nova Fronteira, Planeta, Scipione, Sextante, Cosac Naify, Lua de Papel, Fundamento, Salamandra, Globo, Vergara & Riba, iD Editora, Edelbra, Brinque Book, Conrad, Agir, Contexto, Oxford, Gente, Moderna, Intrínseca, Arqueiro, Belas Letras, Essência, Editora Nacional, Pandora, Pensamentos, Casa da Palavra, Tomas Nelson, Fontamar, Acadêmica, FEB, Publifolha, Alfaguarda, Novo Conceito, Best Seller, Civilização Brasileira, José Olympio, Atual, Devir, Formato, FTD, Paulinas, Paulos, Cortez, Escrita Fina, Arquipélago, Companhia de Bolso, Projeto, Tinta Negra, Global, 34 e Difel, entre outras.