Foto: Tiago Lermen
As alegorias e metáforas rechearam o debate “Identidade, literatura e cultura na globalização”, que teve início às 14 horas de hoje, na 14ª Jornada Nacional de Literatura.
O premiado escritor português Gonçalo M. Tavares deu a partida – aliás, tamanho o número de prêmios que ele já recebeu que a lista levou minutos para ser lida na apresentação. Usando a imagem de uma maça, Gonçalo falou sobre a sua visão sobre os conceitos de globalização e identidade. A fruta era usada na tradição cigana quando havia duas carroças em trajeto: a primeira deixava uma maça na esquina para indicar a direção que havia seguido. Por outro lado, a fruta também sinalizava o tempo que fazia que a primeira carroça passara por lá, através de seu estado de conservação. “A carroça é como cada geração, que deve deixar a maçã como sinal para as gerações futuras”, falou. Sobre a identidade literária, ele considera um dever de qualquer escritor saber identificar os sinais da geração anterior.
Na mesma linha, ele contou um trecho da história do livro “Cabeças Trocadas”, de Thomas Mann, para ilustrar o seu conceito de globalização. “Ela também é um acidente de cabeças trocadas, criando objetos com cabeça brasileira e corpo americano. A certa altura, não sabemos de quem são nossos filhos”, disse, referindo-se à história de Mann, em que a mulher do personagem já não consegue decidir se atribui a paternidade de seu filho a quem tem a cabeça ou o corpo do marido.
Finalmente, Gonçalo recorreu a uma última personagem criada por um escritor alemão: uma vesga que na quarta-feira olha para os dois domingos, o anterior e o próximo. “Para mim, a identidade mais estimulante seria um vesgo que na quarta-feira olha para os dois domingos e transporta uma maça para deixar de sinal à geração seguinte. É assim que eu gostaria de fazer.”
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