terça-feira, 2 de agosto de 2011

O dia em que Machado de Assis pairou pela Jornada

As impressões cômicas registradas nos anais da Jornada são as que compõem em maior parte os Anedotários do evento. Entretanto, passada a primeira sensação de constrangimento ou graça na leitura sobre acontecimentos inusitados, comumente se revela um potencial filosófico e até mesmo pedagógico dentro da história. O relato abaixo é da autoria de Tânia Rösing, organizadora da Jornada de Literatura, e foi extraído do terceiro Anedotário da Jornada. A história traz um desses tais momentos embasbacantes, que, justamente por sua imprevisibilidade, abrem brechas para a percepção de uma certa questão por novos ângulos.


Presença de clássicos na Jornada

Os preparativos de um seminário, de um curso, de um encontro, abrangem a elaboração correta dos certificados a serem conferidos aos participantes. Em 2007, por ocasião da 12ª Jornada, estava prevista a realização do 2° Encontro Nacional da Academia Brasileira de Letras. Entre os acadêmicos convidados, Marcos Vinicios Villaça, presidente da ABL, Domício Proença Filho, Antônio Carlos Secchin, Lêdo Ivo, Moacyr Scliar, Murilo Mello Filho, Nelson Pereira dos Santos, Evanildo Bechara. Cada convidado falaria sobre um escritor clássico com o intuito de estimular o público presente, constituído de leitores em formação, a buscar os clássicos brasileiros, a perceber o valor das obras canônicas entre suas leituras.
O funcionário encarregado de relacionar, no verso do certificado, o nome dos conferencistas, incluiu, a partir da programação constante do folder, na seqüência, na condição de conferencistas, nomes como os de Gilberto Freyre, Tomás Antônio Gonzaga, Raimundo Correia, Machado de Assis, Rui Barbosa. Não distinguiu, na leitura do programa, conferencista e autor clássico cujas obras seriam analisadas pelos acadêmicos referidos. Que emoção atingiria todos e todas se isso fosse verdade! Tudo é viável no universo ficcional...
Duas constatações importantes: ou o funcionário estava muito desatento no momento da leitura ou está incluído entre os não leitores brasileiros, público alvo da Jornada, cujo objetivo maior é a formação prioritária de leitores literários.
Às vezes, dúvidas como esta surgem em nossas mentes: é preciso continuar lutando pela formação de leitores, de mediadores de leitura, pela democratização do acesso ao livro quando o nosso próximo, que está mais próximo, não pe atingido pelas ações e pelos efeitos de toda a movimentação cultural que desenvolvemos?
Em seguida, a certeza. Situações como essa transformam-se em estímulo à continuidade e à ampliação do trabalho árduo, mas essencialmente gratificante, em que se constitui o processo de formação de leitores.
O desafio, certamente, está em aproximar os indivíduos da literatura desde a infância inicial, permitindo-lhes conviver com a sonoridade e o ritmo da palavra, com a pluralidade de sentidos. É o desafio ao conhecimento dos autores. É o despertar do interesse pelos títulos das obras. É o estabelecimento da curiosidade pelos ilustradores e pelas técnicas empregadas em suas criações, viabilizando, assim, nessa caminhada, posteriormente, o envolvimento com os clássicos.
A situação relatada surpreendeu, de forma negativa, a comissão organizadora. Mas certamente todo o público participante recebeu a bênção dos nossos clássicos, por intermédio de suas obras apresentadas com muito brilho pelos acadêmicos presentes.