sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Tania Rösing faz o encerramento. Agora só em 2013.

Foto: Claudio Tavares

Na conferência de encerramento da 14ª Jornada Nacional de Literatura, a sua idelizadora e coordenadora, a professora Tania Rösing, proferiu a conferência "Leitura entre nós: 30 anos da Jornada". Em seu discurso repleto da emoção de celebrar a terceira década do encontro que fomenta a leitura e a literatura em todas as suas plataformas, ela refletiu: "O que eu mais desejo é que as Jornadas continuem em todos os seus desdobramentos. Valeu muito a pena. O trabalho tem sido intenso, mas os resultados são incontestáveis. Passo Fundo tem o melhor índice de leitura do País, com 6,5 livros lidos por ano por cada habitante. Faria tudo de novo, desde que possa contar com o apoio de amigos tão valiosos como Josué Guimarães." Depois de citar uma série de outros amigos, colegas e pessoas da equipe da Jornada, ela concluiu: "É possível transformar o mundo em que vivemos com a continuidade dessas ações. É viável a transformação de cada um, da família, do ambiente onde se trabalha, através da leitura. Do impresso ao digital, o compromisso da Jornada é com ela, a leitura literária. E como dizia Fernando Pessoa, tudo vale a pena se alma não é pequena”. E neste final, ela foi acompanhada pelo coro da plateia.

Cardápio não literário

Foto: Cláudio Tavares


As refeições servidas aos escritores participantes das Jornada no Buffet Clube Comercial foram muito elogiadas por todos, das saladas às sobremesas. No horário do almoço e logo após o encerramento do debate da noite todos vão para lá e é um momento de muita descontração, encontros, conversas sérias e muitas brincadeiras. Esta semana, por exemplo, teve até mesmo um improviso dos irmãos Caruso, antecipando o show de encerramento desta noite.

O livro eletrônico divide opiniões no último debate da 14ª Jornada

 Fotos: Tiago Lermen

Justamente no último debate da 14ª Jornada Nacional de Literatura, sob o sol que iluminava o verde e vermelho da lona principal do Circo da Cultura, a discussão se acendeu e pegou fogo – colocando o tema do livro digital e do impresso no centro do debate “Formação do leitor contemporâneo”. Estavam reunidos – e polarizados -- o escritor, ensaísta e intelectual argentino Alberto Manguel; a crítica, autora e professora argentina Beatriz Sarlo; o poeta, ensaísta, cronista e professor brasileiro Affonso Romano de Sant’Anna, e a editora de livros infantis escocesa Kate Wilson.

 O embate aconteceu depois da fala de Kate. Como editora, seu depoimento contrastou com o dos outros palestrantes, todos autores e intelectuais, enquanto ela deixou claro desde o começo que faz parte do mundo dos negócios. Ela apresentou pesquisas sobre a leitura nos Estados Unidos e Reino Unido que mostram que a venda de ebooks superou pela primeira vez a de livros impressos em fevereiro deste ano. “Agora nós editores temos o papel de nos conectarmos aos leitores e criarmos ótimas experiências de leitura em plataformas diferentes”, disse. No final, mostrou um vídeo de um aplicativo feito por editora, a Nosy Crow: uma animação com a história de Cinderela, com a qual o leitor pode interagir escolhendo se quer brincar, apenas ler, decidir a cor do vestido de Cinderela, entre outros.



Depois disso, Alberto Manguel pediu a palavra e falou, enfaticamente: “Eu não sabia que faria parte dessa discussão a deformação do leitor defendida com argumentos comerciais, de vender este ou aquele produto. O livro não é um produto comercial. É nocivo que uma crianças de 3 ou 4 anos seja introduzida à leitura dessa forma, aprendendo a ler na tela.”




Começou então um acalorado debate, com direito às caricaturas feitas ao vivo por Paulo Caruso que retratavam imagens como Alberto Manguel com luvas de boxe. Depois de recitar um poema de William Blake e dizer que também gostava de literatura, Kate disse: “Eu não me importo com o que as crianças leem, contanto que elas leiam e tenham prazer. Isso as torna melhores.” Mais tarde, ela acrescentaria que “hoje, quando as crianças passam tanto tempo em frente às telas, é preciso criar literatura para essa plataforma.”


Os outros participantes da mesa foram questionados sobre o assunto. Beatriz, depois de hesitar por um segundo, fez uma crítica ao conteúdo do livro apresentado. “A estética é kistch e o desenho gráfico está atrasado. Falta pensamento ao conteúdo”, disse. Já Affonso discordou de Manguel, falando que a literatura é sim um assunto de consumo. “Há um movimento de massa e de consumo.”

Achados e perdidos

Foto: Leonardo Andreolli


Celulares, mantas, credenciais, notebooks, pastas, crianças, professores. Todos os itens dessa lista podem ser (e foram) perdidos durante um evento que reúne milhares de pessoas como a Jornada Nacional de Literatura. Muitos esquecem objetos pessoais, se perdem do grupo ou acham alguma coisa que não sabem onde entregar. Para resolver isso, funciona desde 2005 a Rádio Poste das Jornadas Literárias. O espaço que serve para dar os avisos sobre a programação do complexo de lonas do Circo da Cultura também é a solução para os mais distraídos. Diariamente cerca de 200 pessoas são atendidas.

A coordenadora do espaço é a professora Bibiana de Paula Friederichs auxiliada pelo técnico responsável André Tassi e um grupo de 10 alunos da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo (UPF). Ela explica que além de todo esse serviço ao público a Rádio Poste também é produtora e fornecedora de material de áudio para oito rádios da região. São boletins gravados e ao vivo com a cobertura completa da movimentação. Quem não conhece um palestrante ou conferencista também costuma recorrer à equipe.

Muitas crianças se desesperam ao perceber que estão perdidas. A equipe da rádio precisa lidar com essa situação e distrair os pequenos enquanto o responsável por ele não chega. “Teve um fato curioso. Um grupo de pelo menos 10 crianças procurava uma professora perdida”, conta. Outro caso diferente foi com um celular entregue à equipe da rádio. “Ele ficou o dia inteiro lá. No final do dia a nossa estagiária resolveu ligar o aparelho e procurar algum contato para avisar”, acrescenta. Ela ligou para a mãe da menina que se comprometeu a buscar o aparelho no dia seguinte. Além de voltar para pegar o aparelho, a mãe ainda presenteou a estagiária.

Os autógrafos de hoje

Aproveite o último dia da 14ª Jornada para pegar autógrafos com os autores. Confira a programação de hoje:

15h
Cláudia Machado, Richard Rashke e Felipe Citolin Abal

16h
Fabiano Tadeu Grazzioli, Eloí E. Bocheco, Zenilde Durli

17h
Affonso Romano de Sant'Anna
Alberto Manguel
Beatriz Sarlo

17h30
Paulo Roberto Ferrari

E os autores da Jornadinha todos autografam a partir das 16h30. Eles são:

Leonardo Brasiliense
Giba Assis Brasil
Heloisa Seixas
Christopher Kastensmidt
Gabriel Bá
Fábio Moon
Tiago de Melo Andrade
Rodrigo Lacerda

Todas as sessões acontecem no Portal das Linguagens da Universidade de Passo Fundo, ao lado da Feira do Livro. São gratuitas e abertas ao público em geral.

Do ofício literário

 Foto: Max Cenci

"Todo ovo nasce para ser pinto, mas nem todo ovo vira pinto. Ovo só vira pinto se for galado - tanto que a gente diz 'ih, a coisa não galou'. Sabe quando a coisa não galou? Falta o outro elemento, que é o galo. Então, é assim: a cultura é que vai galar o sujeito. Todos vocês nasceram para ser qualquer coisa, mas precisa galar; precisa perceber este influxo energético e espiritual - vamos chamar assim - da cultura."

Charles Kiefer, na mesa "Oficinas de literatura: como são, para que existem e que futuro têm", do 3º Encontro Estadual de Escritores Gaúchos.

Laura Niembro fala sobre fomento à leitura em seminário da Jornada

Foto: Gui Benck

A diretora de conteúdos da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, Laura Niembro, palestrou na conferência “Experiências de formação de leitores: ampliando redes”, hoje de manhã, no 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, na 14ª Jornada Nacional de Literatura. Na foto, ela aparece segurando o troféu Vasco Prado, ao lado da professora Rita de Cássia Tussi, do programa Bebelendo e que mediou a conferência. 

A Feira de Guadalajara é o maior evento editorial e de venda de livros do mundo de língua espanhola. Mas também é um festival cultural, com muitos encontros com escritores, shows e investimento em formação de leitores, com programas que duram o ano todo e contemplam as crianças.

Em sua primeira passagem pela Jornada de Literatura, Laura se diz muito bem impressionada: “É alentador saber que existe esse encontro na América, com ênfase no trabalho prático. Geralmente, a atividade de fomento à leitura é mais obscura, e ninguém quer fazê-la. Aqui na Jornada, há toda uma equipe preocupada com isso, de uma forma que não está associada a um interesse comercial. E com uma organização perfeita, estou muito feliz por estar aqui.”

Formação de leitores a partir da fan culture

Foto: Gui Benck


Durante a manhã da sexta-feira (26), o 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural reuniu uma série de especialistas em um dos temas mais caros à Jornada de Literatura: a formação de leitores. Cada um de sua perspectiva deu um testemunho importante sobre o assunto – fornecendo possíveis exemplos a serem seguidos na conferência “Experiências de formação de leitores: ampliando redes”.

A especialista em fan culture (cultura de fãs) americana, Flourish Klink, que dá aulas no Massachusetts Institute of Technology (MIT), fez uma exposição entusiasmada sobre a aplicação dessas experiências na formação de leitores críticos. Ela explicou à audiência do que se trata a tal fan culture: os autores criam uma nova história, ou nova versão, com os personagens já existentes de um enredo conhecido. Como exemplo, ela usou a “Odisseia", de Homero: a história fundadora da tradição ocidental foi recontada inúmeras vezes, de diferentes perspectivas. Ela mostrou uma versão que narra a história a partir do ponto de vista de Penélope, que coloca em cheque a versão de Ulisses como um herói. “Há um realinhamento da moral da história”, diz Flourish. “É a versão mais feminista que poderia haver da Odisseia: fala como o amor pode nos tornar bobos e aceitar até os maiores idiotas. Recontar as histórias é mostrar pontos de vista diferentes, mas também ajuda a desenvolver um julgamento crítico sobre a obra original.”

 Foto: Gui Benck

No caso de Flourish, ela costuma criar novas histórias com os personagens de Harry Potter – ela criou a maior comunidade de fãs do bruxo na internet durante a sua adolescência. “Meu orientador diz que há dez maneiras diferentes de contar uma história”, fala. Pode ser abordando um momento diferente da vida dos personagens, que não é narrado no livro original; colocando-os em situações, cenários ou até épocas diferentes, entre muitas outras possibilidades. “Através dessa escrita podemos chegar a insights sobre o livro original.”

Foi então que ela propôs o uso da fan culture como ferramenta pedagógica para a formação de leitores críticos. “Escrever histórias com novas versões pode estimular o senso crítico, e de uma forma divertida, como um jogo”, disse. Depois de Flourish, palestraram também Laura Niembro, da Feira Internacional de livros de Guadalajara; e as professoras Natália Klidzio e Frieda Liliana Morales Barco.

Uma homenagem especial e merecida

Crédito: Tiago Lermen
O escritor Ignácio de Loyola Brandão, coordenador dos debates, fez uma homenagem para a idealizadora e coordenadora da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, Tania Rösing. Confira a íntegra de sua fala no Circo da Cultura:


"Creio que, tendo passado por todas as Jornadas a partir de 1985, eu possa falar em nome dos escritores que estão nesta, ou que estiveram em todas as anteriores. Em nome dos escritores que se foram, desde Josué Guimarães, Mario Quintana e até Moacyr Scliar. Nós escritores, a literatura brasileira, os professores, os estudantes e os leitores devemos muito a estas Jornadas, acontecimento único no Brasil. Talvez na América.

Nestes 30 anos conheci duas mulheres excepcionais. Estas duas, na verdade são uma. É que uma era grande, gorda, espaçosa. A outra é magra como uma modelo de passarela. Estas duas/uma são duas/uma das pessoas mais arrojadas, loucas, corajosas, idealistas, lutadoras, apaixonadas, sonhadoras e extraordinárias que conheço. Que conhecemos.

Repeti dezenas de vezes uma das famosas frases de Otto Lara Resende: “Quem não foi a Passo Fundo não é consagrado”. Não há fotografia, filme, vídeo, não há nada que possa reproduzir com exatidão o que acontece aqui a cada dois anos.

Duvido que Tania tivesse um mínimo de premonição do que aquele primeiro encontro de escritores pudesse ser no futuro. Entre aquele primeiro, regional, e este de hoje, internacional, nacional avassalador, o Brasil viveu 30 anos de uma história de transformações e desenvolvimento.

Não há quem não conheça Tania. Ninguém a quer como inimiga. Mas ela tem alguns, tem desafetos, tem quem a sabota, quem a menospreza. Digo eu: esses poucos hão de arder no fogo do inferno.

Crédito: Tiago Lermen
Tania conhece as salas de todos os ministérios, autarquias, repartições, empresas, financiadoras, prefeituras, secretarias, salas de espera de chefes de gabinete, seja lá o que for, sempre em busca do que? Fazer a próxima jornada.

Não conheço pessoa mais focada, determinada, obsessiva, centrada, furiosa, tenaz, resoluta, quando se trata de colocar a Jornada em pé.

Trator buldozer de 500 toneladas. Boeing 7.00.747. Sólida. Indomável

Emagreceu, sim. Mas a força é descomunal quando se trata da Jornada.

Ela tem sofrido a cada ano, sei disso, os mais próximos sabem. Rejeições, recusas, depressões, desânimos, vontade de largar tudo, desaparecer, entregar os pontos. Muitas vezes os mais próximos a ouviram exclamar: “Chega, é a última.”

No entanto, quantas vezes a ouvimos dizer quando se aproxima o momento de colocar essas lonas de pé, trazer essa gente, arrebanhar as crianças: “Vamos, vamos, vamos! Mexer o rabo, minha gente! Que desânimo! Tem muito a fazer. Querem que a Jornada não saia?

E ela aí vai em frente, de novo, trombando com deputados, secretários e ministros da Fazenda, quem quer que tenha a chave do cofre, a senha da conta.

Esses que não dão o dinheiro, esses que dizem não, esses que criticam, deveriam vir a Passo Fundo (eu pago a passagem) e olhar e se ajoelhar diante da Jornada e de Tania e dizer obrigado em nome do Brasil.

30 anos, 2011
60 anos, 2041
100 anos em 2081

Já liguei para o Oscar Niemeyer e pedi a fórmula, em 2041 eu terei 105 anos. A Tania, não sei, mas ela é nova, ainda que muito vivida. Com essa magreza, ela chegará ao centenário da Jornada de Passo Fundo, resoluta, impertinente, aflita, gozadora, audaz, enérgica, chata, louca, doce, áspera, afetuosa."

Os 30 anos de Jornadas Literárias em textos e fotos


Foto: Tiago Lermen
Depois dos anais da Jornada e dos três Anedotários , surge mais um importante registro escrito da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. Os dois volumes impressos comemorativos dos 30 anos de Jornadas Literárias foram lançados agora pela Editora da Universidade de Passo Fundo e são duas partes conceitualmente diferentes entre si, que complementam-se: um dos livros chama-se “Flagrantes”; o outro, “Estudos”.

“Flagrantes” rememorar a história do principal acontecimento literário do país em uma bela edição, de quase 300 páginas, ricamente lilustrada com muitas imagens e, depoimentos de personalidades importantes para história das Jornadas.

A obra “Estudos” abrange vários nichos temáticos historicamente caros à Jornada, como a literatura, a leitura, a formação de leitores, os diferentes modos de contar histórias e a promoção de iniciativas para movimentação cultural. Este volume, que beira as 200 páginas, traz textos teóricos de autores convidados e traduz em papel um pouco da riqueza da produção acadêmica potencializada por encontros e debates como as Jornadas.