quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Imprensa em movimento digital



Foto: Tiago Lermen

A internet abriu um novo campo de desafios para o jornalismo. Hoje, a informação provém de inúmeras fontes, abrindo o campo da transmissão pública de notícias a uma vasta população – e levando os grandes jornais a um reposicionamento e integração de mídias. Na noite de quinta-feira (25), a conferência “A comunicação do impresso ao digital” colocou o tema em pauta na 14ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. Falaram sobre isso os jornalistas Rinaldo Gama, de O Estado de S. Paulo; Pedro Lopes, do Zero Hora; Roberto Dias, da Folha de S. Paulo, e Eduardo Diniz, de O Globo.

O editor chefe de notícias online da RBS, que inclui o site do Zero Hora, Pedro Lopes apresentou pesquisas americanas que mostram o índice de crescimento do uso de tablets. Curiosamente, eles ainda não são tão usados para a leitura de jornais e revistas: são mais utilizados para acesso aos e-mails.

Eduardo Diniz, de O Globo, disse que a internet representa um novo ecossistema para os grandes jornais, com maior impacto do que tiveram o rádio e a televisão. “A informação transmitida pela internet lança como um supermercado de verdades, onde temos que escolher o que levar”, diz. “Isso mexeu com os grandes jornais, com tradição de produzir notícias. A tendência hoje é que as redações de impressos e sites se integrem.” Eduardo resgatou ainda o significado etimológico da palavra “imprimir”: transmitir, incutir ou gravar. “Hoje, a prensa é apenas um dos veículos, temos que pensar em imprimir, nesse sentido original.”

A essa questão, o editor de Novas Plataformas da Folha de S. Paulo, Roberto Dias, adicionou que apesar de as redações do impresso e site da Folha estarem integradas desde o ano passado, há uma questão econômica: “Não conseguimos ter a mesma receita com os sites do que com o impresso. Isso também acontece no resto do mundo.”

Já o editor do caderno Sabático de O Estado de S. Paulo, Rinaldo Gama, fez uma apresentação ligando o impresso, o digital e a literatura. “A literatura sempre foi multimeios, com multiplicidade de discursos. Hoje, o meio digital oferece um modo novo de realizar isso.” Em sua fala, Rinaldo destacou ainda a necessidade de repensar as formas de cobrir e escrever sobre a literatura eletrônica. E encerrou mostrando os recursos multimídia do caderno Sabático, como o programa mensal que entrevista um escritor na TV Estadão, transmitida no portal do jornal.


Eliane Brum, com muita emoção


Foto: Tiago Lermen

Eliane Brum foi brilhante e emocionou muita gente nesta tarde no debate realizado na Jornada de Passo Fundo. A plateia de cinco mil pessoas assistiu em silêncio, alternando muitos aplausos em alguns momentos, às falas dela, de Edney Silvestre e do americano Nick Montfort. Ela disse que até o aparecimento da internet, o que não era contado eram histórias não registradas e memórias esquecidas. “Com a internet, os personagens que não tinham voz passaram a ter voz, mas não basta ter voz, é preciso construir o conhecimento para ter o que dizer”. Confira aqui outros bons momentos de suas falas.   

Edney Silvestre, em busca de novos caminhos

Crédito: Tiago Lermen

No debate sobre "Diálogo, mídias e convergências", no Circo da Cultura, Edney Silvestre citou trecho do livro “Reparação”, de Ian McEwan, que descreve uma personagem em Londres tentando chegar a um lugar. Ela tem o nome da rua onde quer chegar, mas quando sai à sua procura, percebe que todos os nomes de ruas foram apagados das placas. Então, ela consegue um mapa antigo, mas o pedaço que contém a parte da cidade que precisa acessar está rasgada. “Eu me sinto da mesma forma atualmente. Sei onde quero chegar, mas não sei o caminho”, concluiu Edney. Logo depois do debate ele foi autografar seu livro "Se eu fechar os olhos" (Record) vencedor do Prêmio Jabuti.

Humor também dá o tom para a Jornada Nacional

Crédito: Tiago Lermen

Durante os debates no Circo da Cultura os telões mostram a todo instante os desenhos do cartunista Paulo Caruso revelando seu olhar sobre os participantes e as situações que eles abordam. O público se diverte bastante com a criatividade do humorista, participante semanal do Roda Viva, na TV Cultura.

Outro destaque na área de humor é a mostra Era Lula agora é Dilma, com trabalho dos cartunistas, que são irmãos gêmeos, Chico e Paulo Caruso, e do colega de profissão Aroeira. A exposição pode ser conferida no Centro de Eventos da Universidade de Passo Fundo (UPF) até amanhã. O conjunto de cartoons aborda a transição dos governos de Lula e Dilma, fazendo referência a fatos recentes da política brasileira e do cotidiano com humor e inteligência. Relações entre políticos e
partidos e até mesmo os "0s pôneis malditos" estão entre os assuntos abordados nos desenhos, tão ricos em detalhes que podem ser considerados obras de arte.

Circo sem lona na programação da Jornada

Crédito: Tiago Lermen

Circo sem lona na programação da Jornada Mistura das técnicas circenses com o teatrode bonecos. É dessa forma que grupo de espetáculos De pernas pro ar, de Canoas, trabalha há 23 anos. Participando pela primeira vez da Jornada, a turma, integrada por seis pessoas, apresenta números circenses isolados, andando por todo o espaço da Jornada. De acordo com Raquel Durigon, uma das coordenadoras, o grupo surgiu da vontade de usar uma linguagem diferente para se expressar. "Nós somos um circo sem lona e expressamos todos os nossos sentimentos através dos espetáculos que fazemos, sentimos necessidade disso, de levar a arte para as pessoas". Eles se apresentam novamente amanhã no Campus I da UPF, ao meio dia e às 17 horas.

O Teatro Mágico incendeia o Circo da Cultura


Foto: Cláudio Tavares


Pouco antes das 11 horas, a lona principal do Circo da Cultura atingiu lotação máxima. O motivo: o show do Teatro Mágico. Gente de todas as idades aguardava ansiosamente pelo grupo --  não apenas o público alvo da Jornadinha de hoje (alunos de 6° a 9° ano), mas também crianças mais novas e pessoas mais velhas.

O grupo capitaneado por Fernando Anitelli foi aplaudido vigorosamente, antes e depois da execução das canções. No repertório, músicas de autoria própria misturavam-se a melodias folclóricas tradicionais e também a eventuais referências pop. Essa mistura acertou o público em cheio, divertindo-se tanto com a familiaridade de algumas canções como com a imprevisibilidade e inovação de outras. 
A banda-trupe reúne não só os seis músicos encarregados de tocar violão e guitarra, violino, baixo, bateria, percussão, flauta tranversal e, ainda por cima, cantar: também há espaço para que outros artistas façam intervenções acrobáticas e teatrais durante o show. Assim, é comum assistir cenas como a de um palhaço saxofonista que interrompe e adere a uma música, uma mulher subindo por um tecido até quase o teto ou se contorcendo (no ritmo da música) em um aro metálico suspenso. Essas intervenções completam a aura pop circense do grupo.

Com o fim do espetáculo, fica a expectativa de ver o circo pegar fogo ainda mais uma vez: eles se apresentam novamente no último dia da Jornadinha, amanhã às 10h45.

Vale conferir a Ecocartoon

 Quem passar pela 14ª Jornada Nacional de Literatura também poderá conferir várias obras em cartoon, que se encontram expostas no Centro de Eventos da UPF e, entre elas a mostra Ecocartoon. Criado em 2008, o Ecocartoon traz os trabalhos de cartunistas do mundo inteiro. Eles traçam em seus desenhos um tema ambiental tentando despertar na população os sérios riscos que o planeta terra enfrenta, com o objetivo de conscientizar as pessoas.

E o que é melhor, de forma bem-humorada. Em sua 4ª edição, o Ecocartoon recebeu mais de 500 trabalhos de desenhistas de 51 países. Os trabalhos foram julgados por um corpo de jurados, sendo que os melhores, 108 no total, compõem a exposição que faz parte da programação paralela da Jornada. A exposição Ecocartoon ficará aberta ao público até o dia 26 de agosto, no Centro de Eventos, Campus I da UPF. A visitação é gratuita.

Por uma nova abordagem da literatura nas universidades

Durante esta manhã de quinta-feira, o crítico, especialista em Teoria da Literatura e professor Luiz Costa Lima questionou o modo como a literatura é ensinada nas faculdades de Letras – não apenas no Brasil, mas no mundo. Ele colocou a questão durante a sua conferência “A literatura e o leitor”, no 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural.

Professor visitante em uma série de universidades importantes em países como a Alemanha e Estados Unidos, Luiz Costa Lima foi carinhosamente chamado de “monstro sagrado da crítica brasileira” pelo mediador, o professor de Letras da Universidade de Passo Fundo Miguel Rettenmaier. Costa Lima é autor de mais de 20 livros e representa o alto grau de erudição que parece quase inatingível nos dias atuais com a fragmentação dos interesses, a sobrecarga de informações.

Em suas falas, ele defendeu a tese de que a literatura ainda se ensina com uma visão do final do século 18. Discorreu sobre como é recente a própria palavra e significado da palavra “literatura”, antes do século 18 chamada de “belas letras”. Da mesma forma, a noção de sujeito moderno, com o eu no centro das questões, também só passou a imperar depois dos ensaios de Michel de Montaigne – anteriormente o sujeito era determinado pelo seu meio social e heranças hereditárias.

“É com o romantismo alemão da segunda metade do século 18 que a literatura aparece como expressão do eu”, explicou. Depois dessa exposição, ele concluiu que os cursos de Letras ainda se focam em uma abordagem sociológica (que impregna a história da literatura), do que nos próprios textos literários. Também ressaltou a importância de que os cursos não se concentrem apenas em literatura nacional. “É importante estudar a literatura de um outro país, e também aprender um outro idioma.”