quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quando jornalismo e literatura se encontram

Até que ponto as mídias convergem e divergem no atual cenário digital e de informações fragmentadas? Jornalismo e literatura podem se dar as mãos? Esses são alguns dos temas que devem estar presentes no debate "Diálogo, mídias e convergências", que acontece no dia 25 de agosto, às 14 horas, na 14ª Jornada Nacional de Literatura. A palavra estará com o escritor e diretor de televisão João Alegria (que também é curador da Jornight), o acadêmico americano e escritor de narrativas interativas Nick Montfort e os jornalistas e escritores Edney Silvestre e Eliane Brum.

Eliane representa um exemplo de como literatura e jornalismo se abraçam. Célebre por seu trabalho de jornalismo humanista e literário, ela acaba de lançar o seu primeiro livro de ficção: “Uma Duas” (LeYa), um romance que aborda a relação entre uma mãe e uma filha. “A necessidade de escrever ficção se impôs nos últimos anos, especialmente a partir do meu trabalho com a morte no jornalismo. Em 2008 e 2009, praticamente só fiz reportagens sobre a morte”, conta. “Senti que precisava de uma outra voz para me expressar, porque só consigo elaborar os conflitos da vida escrevendo. Acho que a literatura sempre vem de uma profunda necessidade interna, assim como a reportagem, mas de um outro jeito.”

Ela define de modo poético o diálogo existente entre jornalismo e literatura de ficção. “Na reportagem, precisamos fazer o movimento de nos esvaziar (de nossos preconceitos, de nossa visão de mundo e de nossos julgamentos) para sermos preenchidos pela voz do outro, pela história que é do outro. E o nosso desafio é dar ao leitor a complexidade do real. No jornalismo, é a apuração que determina a qualidade do texto, para que ele seja substantivo”, fala.

-- Já na ficção, acredito que o desafio é o oposto. É preciso ter a coragem de se deixar possuir pela própria voz. É uma escuta dos nossos subterrâneos – e tão desconhecida de nós, apesar de vir de dentro, quanto a história do outro que contamos na reportagem. É, digamos, uma apuração interna, que se dá de outra maneira, mas é uma apuração. O jornalismo é limitado pela realidade de fora, a literatura pela realidade de dentro. Mas ambos são limitados, porque a palavra é sempre insuficiente para dar conta da vida.