quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Muitas possibilidades criativas e interativas para a literatura eletrônica



Na tela de computador, a linguagem desbrava outras fronteiras estéticas, podendo estar integrada a imagens, vídeos e passível de interação, abrindo um leque de inúmeras possibilidades criativas -- e interativas. Na conferência “Literatura e imaginário no século XXI”, parte da programação do 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, da 14ª Jornada Nacional de Literatura, o professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), crítico e autor de ficção interativa Nick Montfort discorreu sobre o assunto e apresentou uma série de trabalhos eletrônicos.

O professor e pesquisador da área de Letras da Universidade de Passo Fundo Miguel Rettenmaier apresentou Montfort, destacando como os livros do autor tiveram impacto quando chegaram à comunidade acadêmica da UPF. Então, Nick conversou com o público, colocando ênfase na mostra dos trabalhos eletrônicos. No começo, ele destacou a obra com códigos que mudam da artista digital brasileira Giselle Beiguelman, que participou do debate principal de ontem da 14ª Jornada.

Falou também sobre o seu trabalho na Electronic Literature Organization. “Nosso objetivo é compartilhar a literatura eletrônica com o público e trabalhar formas que vão além do que ocorre nos ebooks”, explicou. “A literatura eletrônica não quer criar um mercado, mas encontrar formas de compartilhar os trabalhos.” A Electronic Literature Organization compilou, inclusive, a primeira antologia de criações desse segmento, disponível em collection.eliterature.org. Geralmente, os autores desse tipo de literatura concordam em disponibilizar o seu trabalho gratuitamente através das redes para indivíduos e instituições sem fins lucrativos.

Na literatura eletrônica, elementos como a música, fotos ou vídeos podem ser combinados às palavras de modo a integrarem-se, criando novos formatos eletrônicos. Nick desenvolveu um programa gerador de poemas e textos, com o qual o leitor interage – todo o seu trabalho está disponível em nickm.com. Dependendo do o leitor escrever ou falar, a história terá novas formas. Em um deles, por exemplo, é possível dar comando às palavras: quando se escreve para ligar as luzes, um tipo de texto vai aparecer, ou para as letras acordarem, um outro. No fim, o ato de ler esses textos é uma experiência, na qual o leitor interfere. “Nos geradores de textos, trabalho com texturas de linguagem, não há textos excelentes, o que vale é a experiência de ler para ter um encontro diferente com a linguagem. Mas se a pessoa espera uma constelação de palavras, a perfeição da linguagem, pode ficar decepcionada.”

Em outro exemplo, ele mostrou um poema que criou em um passeio por um parque de Twain: ele tentou traduzir através da linguagem visual o que via no parque: as linhas que acabam com um travessão, por exemplo, correspondem aos túneis que ele via no parque. E chegou a ler com o intérprete da palestra – em inglês e português -- um outro trabalho inspirado no movimento Fluxus de Yoko Ono, com a palavra sim como centro para textos que se criam.

Entre as inspirações para o trabalho de literatura eletrônica e interativa, ele cita as obras do Concretismo dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos. A literatura eletrônica, porém, é mais uma possibilidade – e não concorre de forma alguma com o livro impresso. “Ela representa um espaço para a literatura na rede. Nos comunicamos de maneira diferente, a rede permite outras possibilidades, mas leio muitos livros impressos e sou fascinado por sua forma material”, disse. “Até o computador é um tipo de livro: ele abre e fecha da mesma maneira.”

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