quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Beatriz Sarlo, uma das principais vozes críticas da Argentina



A crítica cultural, ensaísta, acadêmica, escritora e editora Beatriz Sarlo é uma das principais pensadoras da Argentina atual. Pelo seu olhar atento, nada escapa. Dos filmes à política, passando pela literatura e até o comportamento dos vizinhos portenhos. Na 14ª Jornada Nacional de Literatura, Beatriz participa do debate “Formação do Leitor Contemporâneo”, ao lado do escritor argentino Alberto Manguel e do brasileiro Affonso Romano Sant’Anna.

Beatriz nasceu em 1942 e estudou literatura na Universidade de Buenos Aires. Foi cofundadora da revista “Punto de Vista”, uma das vozes de resistência nos idos da ditadura militar na Argentina, e editou esse veículo durante 30 anos. Publicou um livro sobre Jorge Luis Borges que virou referência e também escreveu sobre temas como o feminismo e o senso dividido sobre o lugar da Argentina na América Latina. Em seu país, ela ocupa cargos importantes em universidades e também escreve regularmente para jornais como o La Nación, Clarín e Página 12. Ultimamente, é conhecida como uma das principais intelectuais anti-kirchneristas do país. O governo Kirchner é o tema de seu último livro, recém-publicado: "La audacia y el cálculo, Kirchner 2003-2010" (Editora Sudameticana).

Além de tudo, às vezes essa bonita e inteligente senhora causa agitação. Como no final de maio, quando foi entrevistada no programa 678, da TV Pública Argentina. Trata-se de um dos programas argentinos mais polêmicos, conhecido por colocar as declarações dos entrevistados fora de contexto. Com dedo em riste, Beatriz acusava os entrevistadores de distorcerem informações, causando recordes de audiência e virando o assunto daquela semana no país.

Como editora da revista Punto de Vista e pensadora, qual é a opinião dela sobre o impacto das ditaduras militares na Argentina e Brasil na leitura, elas chegaram a afetá-la? “As ditaduras obrigam a ler tudo em códigos, mesmo aquilo que não tem um código político é politizado. E o que é secretamente político adquire um estatuto hiper-político ou hiper-ideológico. As ditaduras liquidam a esfera pública, mas, secretamente, clandestinamente, circulam leituras que buscam o não-dito no dito, o que se nega à luz do dia, os crimes dos quais não se falam abertamente. As ditaduras treinam para as configurações alegóricas.”

Sobre a discussão de formação de leitores em meio a um contexto que está mudando com as plataformas digitais, Beatriz comenta: “Provavelmente, o maior desafio seja aprender a ler nos meios digitais. Sobretudo, aprender a ler a literatura do passado nas telas do futuro. A leitura digital é um surf, um deslizamento sobre os textos. Até vinte anos atrás, ler significava deter-se; hoje ler significa avançar, passar de uma coisa para outra, pular. Não sabemos ainda quais serão as consequências estéticas dessas mudanças tecnológicas”.

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